quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Aqui está Tete  escrevendo nas estrelas e tocando craviola 23  anos depois na TV APARECIDA.
Sempre linda este ser da floresta que como uma sereia se apresentou apoteoticamente
e retornou para os mares da floresta. E vive na memória de quem viu. Vê também. Curta.

http://www.youtube.com/watch?v=ligz5o6R2k4&feature=related

Este é um grande momento da música brasileira em Festivais. Este do encerramento é uma maravilha!!!!!!!! 1985 é maravilhoso no Maracanãzinho,
O outro que vem a seguir é de 2008 - 23 anos depois,  na TV APARECIDA ela canta e toca  Craviola.
É bom ver os dois. Ela é linha e CULT.
http://www.youtube.com/watch?v=ligz5o6R2k4&feature=related

domingo, 26 de agosto de 2012

Eis que surge o verbo e se torna TEATRO GAME

Visita de conversa longa. 

O Brodo dos Brodi iniciou o Game Teatro no Ponto Cultura - Ambiental - Arte - Educação - Ciência e Tecnologia. Mostra da Alegoria Biodiversincrética, Game Teatro, Mecanica Espacial em Caxias do Sul - RS neste fim de semana invernal de 25 e 26 de agosto.

Equipe Porto Alegre.
Mestre Chico
Paula Soares

> Ecoaecoa
Alissa Gottfried

> Cooperativa Rizoma
Rodrigo R. Apolinário

> Ponto de Cultura Biblioteca do Fórum Social Mundial
Ana Paula Stock

Brodo dos Brodi com claudinha V
claudialulkin.blogspot.com

Guatassaras sambam no Teatro GAME

Navegar é estar vivo
Navegar juntos é convívio
navegar no Teatro GAME é indisível
silêncio e música
palavra e ritmo

História Cantada
Memória Animada

ecoaecoa



pretérito do presente:

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Cavalinho Azul fotos em cores



O CAVALINHO AZUL 1962




CAVALINHO AZUL 1962-
magia, textos, contexto, fotos de            
MAURO DE BLANCO

25 de agosto a 23 de setembro,
entardeceres  17h as 21h

GAME TEATRO - 
Grupo Aprendizes Mecânica Espacial

Rua João Zandomeneghi, 1732 
Bairro Universitário, 
Caxias do Sul, RS
95040-410
tel. 54 30212359.

sábado, 5 de maio de 2012

AnotAções para uma História do Teatro em Caxias/RS




 TEATRO EM CAXIAS DO SUL



RECREIO DA JUVENTUDE VAI FAZER TEATRO

Mais um grande tento acaba de ser marcado pela diretoria do Recreio da Juventude: ele vai criar um grupo de teatro.
Acontece que desde há anos um jovem amante do teatro gosta de Caxias do Sul e de sua gente, tendo assistido aqui a apresentação do Atelier de Teatro. Trata-se de José Luiz, o Zé, de 37 anos de idade, e que,  no Rio de Janeiro, estudou teatro com Maria Clara Machado.

VAI HAVER TEATRO

Zé esteve no Recreio da Juventude ao saber que o clube estava construindo um  teatro, e, ao falar com Flávio Ioppi, recebeu do presidente do Recreio o convite para organizar um grupo teatral. Ficou decidido, a princípio,  que o teatro do Recreio da Juventude vai ser inaugurado no dia 10 de maio e acharam  que o bacana mesmo seria inaugurá-lo logo com um grupo daqui. E foi fundado o GAME – Grupo de Aprendizes Mecânica Espacial. Vai haver, agora, um curso de iniciação ao teatro, com inscrições já abertas na Secretaria do Recreio, sendo que as aulas vão começar no dia 2 próximo, nos horários de segunda a sexta-feira, das 17 às 19 horas e das 19 às 21 horas. Aos sábados, depois das 17,30 e nos domingos depois das 16 horas. Do curso é que deverão sair os artistas para a peça que inaugurará o Teatro do Juventude. A peça será criada pelo próprio grupo e o tema é “ O ônibus das seis”. Segundo Zé, teatro é uma iniciação também à profissionalização na arte,. “ E muita gente se encontra numa profissão fazendo
teatro”, disse ele. E é isso aí. Esperemos o teatro do JU.
(Pioneiro – Caxias do Sul, 29 de março de 1975)

Teatro: Uma Arte Que Ressurge em Caxias. 

Caxias do Sul, desde o início do século tinha teatro. E bom. Alguns artistas, amadores caxienses e de outras cidades, chegaram a formar atrações para as peças. Estas quase sempre eram repetidas pelo menos três vezes devido ao sucesso. No começo o teatro caxiense era falado em italiano. Depois em ítalo-brasileiro.
A falta de uma casa que fosse só teatro, pois as que haviam receberam telas e transformadas foram cinemas, iniciou a decadência do teatro caxiense. Depois de vinte anos, agora o teatro, como arte, ressurge: com duas divisões, uma que defende o teatro tradicional e a outra que apóia incondicionalmente o teatro moderno.

ANTONIO   MANO

O português, radicado desde criança em Caxias do Sul, Antonio Domingues Mano é, talvez, a maior autoridade em teatro caxiense. Ele participava de pontas de teatro em 1918 quando Corina Conte, uma caxiense era um sucesso tão grande que uma companhia italiana, não fosse a obstinação dos pais, te-la-ia levado para as ribaltas da península.
Mano conta que o teatro começou em Caxias do Sul por volta de 1915, com amadores italianos. O centro das apresentações era o Clube Juvenil. Depois houve uma parada.
Por volta de 1929-1930- segundo Antonio Mano – as peças ressurgiram. Havia grupos que as apresentavam em italiano e outros em português. Surgiram nesta época o “Doppo Lavoro” grupo teatral que significa “Depois do Trabalho”. Após o trabalho dedicavam-se de corpo e alma ao teatro.
 Mano conta ainda que o Círculo Operário Caxiense, com a contratação do ítalo-brasileiro, Tancredo Leal, chegou ao sucesso com a peça “O Mártir do Gólgota”, que foi repetida seis vezes enquanto as pessoas que não conseguiam lugar ameaçavam derrubar o prédio, pois não queriam esperar para ver os êxitos de então.
O clímax do Teatro Caxiense ocorreu entre 1935 e 1940 quando até peças locais eram levadas ao palco. Uma delas “Caxias em Flagrante” de Décio Vianna, tinha dezenas de figurantes, uma orquestra completa e o sucesso foi absoluto.
“Naquele tempo- explica Mano- a gente vendia ingressos de fábrica em fábrica e assim se podia ao menos cobrir as despesas. Ninguém ganhava nada, mas todo mundo fazia questão de trabalhar. Lembro-me de peças como “ Se o Anacleto soubesse”, ” Os dois surdos” etc.,que repetimos muitas vezes. E o sucesso era estrondoso”. O cinema  e os meios de comunicação( a televisão) ajudaram a que o teatro caxiense declinasse vertiginosamente.  Mano se recorda que muitas companhias nacionais, às vezes, não chegavam a igualar ou superar em sucesso, aos êxitos das companhias amadoras caxienses.
O principal problema entretanto foi a falta de uma casa onde só houvesse teatro. A “Alliance Française” com um grupo local resistiu durante algum tempo e chegou a apresentar bom teatro.Nilton Scotti, Darwin Gazzana e outros eram os labutadores. Ítala Nandi surgiu desta escola.

 O TEATRO VOLTA

A 10 de maio próximo, os caxienses que há seis meses perderam o Cine Central, terão de volta um teatro, quem promete é o presidente do Recreio da Juventude, Flávio Ioppi. A peça “ A Gramática” de Eugène Labiche, será encenada por um grupo local que está sendo ensaiado pelo carioca  José Luiz. Em seguida haverá apresentação da peça “Ônibus das Seis” , do próprio grupo.
Uma sala com um palco bem feito, com 250 lugares( poltronas de fibra de vidro) será inaugurada a 10 de maio. Uma pesquisa levou o Recreio da Juventude a construir no antigo Cinema Central um teatro.
O presidente Ioppi é quem diz: “ Se as peças alcançarem sucesso maior, serão repetidas tantas vezes quantas forem necessárias. Mas a capacidade da sala facilita aos atores e mesmo é resultado de uma pesquisa feita em Rio e São Paulo”.
Mas não só pelo Recreio da Juventude e seu grupo teatral, o teatro voltará a Caxias do Sul. “Todo grupo que surgir será apoiado pelo Juventude - segundo Ioppi - e faremos questão que utilizem nossa casa. Afinal o clube deve retribuir algo à comunidade caxiense”.

OPINIÕES

Darwin Gazzana, antigo membro do Teatro da Aliança Francesa, responsável pelo êxito de peças que marcaram época como “Cavalinho Azul”, “Pluft, o fantasminha” e outras, acredita que agora haverá mais condições para a formação de grupos de teatro.
Flávio Ioppi diz que a renda ou a receita não é a preocupação do Juventude  com seu teatro: “ nós queremos fazer uma casa de cultura e não um local que nos garante dinheiro.Agora, mesmo em virtude disso, peças de baixa categoria não serão permitidas. Nossa intenção é entreter e educar”.
Antonio Mano não só acredita que o teatro vai ressurgir em Caxias do Sul como ele próprio se dispôs a volta ao palco. “ O teatro – explica - deve educar e instruir. O palavrão não cabe ao menos no teatro amador. Eu acredito mais no teatro tradicional. Gosto do teatro moderno, mas sou contra coisas sem nexo que às vezes levam a rubrica de teatro”. E conclui: “E se precisarem de mim estarei sempre às ordens”...
Renato Henrichs, secretário do “Jornal de Caxias” não é contra o teatro moderno em Caxias do Sul. “ Eu só acho que para começar o pessoal deveria apresentar uma coisa que facilitasse sua compreensão pelo nosso público que não está acostumado a ver teatro”.
Valdir dos Santos, do Departamento Cultural do “Centro Cultural Brasileiro Norte-Americano” igualmente acredita na volta do teatro. E adverte:”O teatro deverá antes de mais nada atrair o público.E nós não estamos acostumados a ver teatro por aqui. Eu acredito que o teatro moderno é ainda uma série de experiências”.
A opinião de Darwin Gazzana é de que o teatro tradicional deve continuar e o teatro moderno igualmente.Deve haver uma coexistência.

TEATROS X CAXIAS

Caxias do Sul possui um grupo teatral amador “Ribeiro Cancela” que é dirigido por Amirante João Francisco. Peças populares foram levadas a todos os bairros e cidades vizinhas.Com restrições da parte de alguns(... “as peças deprimem e deseducam”...)e com aplausos do público.Ribeiro Cancela existe há 25 anos e vem lutando com sacrifícios.
As poucas peças apresentadas por companhias nacionais trouxeram a Caxias do Sul, Paulo Autran (1972), Procópio Ferreira (1971), grupos responsáveis pelas peças “Lá” de Sergio Jockymann, “Um grito parado no ar “, “Quando as máquinas param” e outras. Os cinemas Ópera e Real eram cedidos para estas apresentações, em geral com escasso número de presentes. “ Um grito parado no ar” foi uma das raras exceções lotou a casa. Fora isso, apenas shows de cantores e comediantes diversificaram o parco cardápio dos caxienses que agora voltarão a ver teatro.
A preocupação gira em torno de se os caxienses de fato conseguirão, depois de 20 anos, ver e aplaudir peças modernas sem antes uma fase de adaptação.
A mescla de peças modernas com números do teatro tradicional será talvez a fórmula ideal. Assim quem quiser ver teatro moderno terá sua vez e noutra apresentação poderá ser aplaudida uma peça antiga
ou tradicional.
“É uma fase de renovação na cultura caxiense, complementada pelo lançamento de livros, poesias, artigos e contos” na opinião do professor Jayme Paviani, escritor e Secretário de Planejamento da UCS. É a volta de oportunidades de cultivo de cultura e arte, coisas há muitos anos ausentes da vida dos caxienses. 
(Correio do Povo – Interior- pág.15 – Domingo 4 de maio de 1975) 



 Vinha em temporada de sucesso iniciada em janeiro de 62, quando Zé decidiu fechar o Studio BB - dedicado  a bebês e  à  Brigite Bardot - sair de Duque de Caxias , onde morou desde 49, e de fotografia,que aprendera com Sebastião Sabino da Silva , do Foto Tip Top  e  do jornal Luta Democrática , para conhecer o Brasil. Recomendação de Barbosa Leite, do IBGE.
 Participara do Teatro Moderno Caxiense - TMC, divulgando a encenação de “Morre um gato na China “ do Pedro Bloch, ensaiava ‘Auto da Compadecida’, resultado de longos papos com Armando Melo, veterano de teatro e circo, que hoje é nome de teatro na cidade. Com ele aprendeu a atuar.
  Antes de mudar,  foi até São Paulo em dezembro,  com Antonio  e Carmem, parceiros do TMC , rever Julio, colega de ginásio, e Genival, antigo vizinho, amigos que lá estavam há algum tempo,  sondar possibilidade de trabalhar na Alcântara Machado que promovia feiras no Ibirapuera e, visitar o  Teatro Oficina, sobre o qual havia lido matéria no Jornal do Brasil.
Na Alcântara , não tinha vaga. Na agência existia uma vaga para contato que falasse alemão, o que não era o  caso. Deixou o Oficina para a volta.Voltou ao Rio, vendeu equipamentos e transferiu ponto.
Portando uma Flexaret 6x6 e pequena mala foi parar numa pensão na Fernando de Albuquerque entre a Augusta e Consolação, onde Julio havia morado quando veio para São Paulo trabalhar com turismo.Agora morava em apartamento na Guaianases  próximo do  de Genival. Genival Melo trabalhava na Copacabana Discos e empresava artistas como Carlos Galhardo, Ciro Monteiro, Silvio Caldas, Rinaldo Calheiros.  Com ele conheceu a TV Excelsior, Record e Tupi. Anos atrás o reviu empresando Nelson Ned e Moacir Franco. Fez duas capas de discos – Sonora Matansera (Fernando Abrunhosa de modelo) e Bienvenido Granda( com  uma das Hartmann, Margareth ou Elizabeth)   ao tempo em que ele era  divulgador da Mocambo Discos no Rio.
 Enquanto servia na Auditoria Militar da Aeronáutica, era  sócio do  Forma Fotografia, no sétimo andar do Centro Comercial Copacabana esquina Siqueira Campos, e fotografava para a Socila de Maria Augusta, criadora da primeira agência profissional de modelos,  que conhecera  no Studio Rembrandt.   O Rio o cansava. Sentira-se melhor na serra. Iria para o planalto.
 
Promotor de Vendas em agência de turismo ou Divulgador Cultural eram os títulos de  anúncios  que haviam sobrado depois de vinte dias de busca, com um guia de ruas na mão e muita pergunta.
Optou por divulgador cultural da Editora Logos onde aprendeu a vender livros com Isaias Strasinski, excelente contador de causos, declamador, e que reacendeu o dizer poético , apresentado as poesias de Décio Bittencourt, a quem conheceu  e guardou estima eterna.
Com suas poesias falaram em fábricas, escolas , escritórios.
Depois do carnaval saíram de Kombi com Johil  rumo ao Rio Grande do Sul, representando a EPOL- Editorial Pontes Ltda. e vendendo Enciclopédia “A Criança para Pais e Professores” da Fundo de Cultura, e a “Biblioteca do Contador” do Prof. Erimá Carneiro. Uma pane no motor deixou-os em Lages, que não estava no roteiro e estrearam com sucesso. Início das doses maciças de vitaminas a a b d – afagos, aplausos, bravos, dinheiro que viriam na seqüência. Johil deixou-os em Santa Maria e seguiu para a fronteira.
Fazíam até dez apresentações de cinqüenta minutos por dia, para pequenos ou grandes grupos de professores do curso primário e alunos de magistério e contabilidade. Eram extremamente gratificantes.
Em Santa Maria conheceram o poeta e médico Prado Veppo , e incorporaram novas poesias no repertório.
“Eu quis fazer um dia um poema inteiro
que fosse  bem brasileiro
 sem dizer verde e amarelo
sem falar em céu de anil
sem lembrar que samba existe
e que batuque faz meiguice
na negra do candomblé.
Sem devoção a São Jorge
O santo dos nossos pobres.
Sem lembrar que na Bahia
tem gente que lava igreja
para o Senhor do Bonfim.
Um poema cheio de povo
sem marchas de carnaval
com emoções verdadeiras
sem lances de futebol
a mais fraterna bandeira
neste mundo dividido.
Eu quis fazer um poema inteiro
mas os versos não nasceram
na palma da minha mão.”
O caldo entornou na cidade, num sábado, quando telefonaram para o hotel avisando para  ler  matéria publicada no jornal A Razão, na coluna Acupuntura assinada por Karaxato, dizendo que as poesias que Isaías apresentava como suas eram de Décio Bittencourt, surpreendendo até o José.
Leram na portaria do hotel, foram a banca, compraram um exemplar, e foram para a casa do representante da editora na cidade,que era estudante de direito, preparar uma resposta, que entregaram segunda-feira no jornal.
Como a carta teve parte censurada, receberam convite para entrevista na Radio Guarantã e descobriram o Karaxato e mandaram-no comprar uma lata de neocid em pó como o melhor remédio para chato. E ele tinha razão. As poesias eram de Décio. Isaias confessou.
Separaram-se. Depois de Cruz Alta, Isaias seguiu rumo às Missões e José fez  Julio de Castilhos, Tupanciretã, Carazinho, Sarandi, Passo Fundo, onde encontrou Caioby Fayad, pai das gêmeas e campeão de vendas em 61, com o recorde de 2400 coleções  de “A Criança e Nós” e “A Criança , A Família e A Escola” e  Ciro Pontes, o “big boss” da Epol, que depois de assistir o trabalho de José, ofereceu a região da serra, que começasse por Caxias do Sul e se hospedasse no Hotel Real.
Fez Erexim, de onde embarcou numa viagem que durou 12 horas, e quando o ônibus deixou a estrada escura e entrou  naquela avenida iluminada, pensou: Estou chegando numa cidade grande.
No Real conheceu Flávio Ioppi, dono do hotel, que dias depois o convidou para um jantar do Rotary, no restaurante do hotel. Tinha ouvido falar da atuação e gostaria que narrasse na reunião. Aceitou de  bom grado e ao fim da sessão, Elí, que a presidira,   diz:- Vou te levar para conhecer uma coisa  que tenho a certeza que você vai gostar. Subiram uma quadra, entraram num edifício e ainda na escada do primeiro para o segundo andar, viram um velho gordo e barbudo dizendo:
- Eu me chamo João de Deus.
- Deus, o Deus do catecismo ? pergunta o menino.
Eram Darwin Gazzana  e Rose Scoti, ensaiando o Cavalinho Azul de Maria Clara Machado, no Atelier de Teatro da Aliança Francesa com direção de Nilton Scoti, música de Nestor Campagnolo ao vivo e mais Any e Valdira Danckwart, Bassanesi, Davi e Eli Andreazza, Renan Falcão de Azevedo um magnífico palhaço, Irmgard e Gerda, Zilia Garcia,...
Encantou-se, assistiu ensaios,  fotografou o geral, junto com Mauro de Blanco e estréia.
Brilhante. Magnífico. Excelente. Bravos.
Foram parar no  Teatro São Pedro em Porto Alegre.
Na estréia reencontrou Prado Veppo, médico e poeta que conhecera em Santa Maria,  de  quem  incluiu poesias no repertório e  Gerd Bornheim, o filósofo.
Fez Farroupilha, Garibaldi, Bento de onde teve que vir de táxi  a Caxias  embarcar de volta a São Paulo  em   julho de 62 quando se deu a complicação política do gabinete do então sistema parlamentarista , arrancado a fórceps do Congresso, após renúncia de Jânio. Não havia passagem . Foi sentado em cima de uma caixa de dúzia de garrafas de vinho Largo do Boticário, mamando uma para chegar a tempo do casamento do Lauro, colega de EPOL, dia sete.
Entre 62 e 72 envolveu-se a fundo na produção, edição e comercialização de livros, publicações e periódicos, recrutamento, seleção e treinamento de vendedores de livros. Foi vendedor da Livrobras, Li-bra - Empresa Editorial, J.Quadros Editores Culturais, Formar.
Foi sócio das editoras: Concórdia, Marambaia,                                                       Moderno Educador, Educador Contemporâneo e Teboré, em Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre e atuou como supervisor de promoções na divisão de educação da Abril em 71/72.
Conheceu o Brasil andando e conversando, mantendo contatos com o teatro feito nestas cidades e em Caxias do Sul , onde cultivou amizades desde então.No início de 75, revendo amigos recebeu convite,  para participar da difusão de ”controle de qualidade no laboratório de análises clínicas” e de “perfil bioquímico preventivo” ( CHECAP CAAC )da Central de Automação em Análises Clínicas, ficou  e descobríu  que o Recreio da Juventude ia fazer teatro.
Foi lá e falou com  Flávio Ioppi que o presidia, marcaram reunião com os sócios encarregados do departamento cultural do clube , quando ofereceu de graça, um Curso de Iniciação ao Teatro –40 horas -interpretação, direção, produção - semelhante ao que fizera no ano anterior no Tablado através de improvisações teatrais, individuais e coletivas,  muito palco, pouco papo, muita leitura e  representação, desde que fosse aberto para não sócios.
Como se formaram duas turmas , o presidente ofereceu as refeições no restaurante do clube.
 Mais de 500 horas  de improvisações e ensaios enquanto o teatro era construído. Consulta a Censura que exige 90 dias para liberação do texto, que não estava pronto, e um ensaio geral exclusivo para o Censor, determinar cortes ou não. O teatro que deveria ficar pronto em maio passou para junho,  Sugeriu  estrear a peça sem fala e Flávio achou que isso poderia ser tomado como ofensa. Pediu outra peça e lembrou-se de ter assistido “ A Gramática” no Tablado e  que talvez estivesse liberada. Assim morreu o ‘Ônibus das Seis’  e formou-se o elenco com Sérgio Chaves, Jussara Ramos,Valdir  Galafassi, Vanda Stecanella, Fabiano,
Os figurinos e o teatro só foram usados pelo grupo no ensaio geral na véspera da estréia. Não assistiu a estréia, nem as apresentações, pois tinha compromisso terça- feira no Rio de Janeiro,  e não tinha dinheiro para ir de avião - clube não quis pagar - e por lá ficou quase um mês, quando decidiu trazer parte da família. Temporada encerrada e cena congelada.E novas amizades e conhecimentos.

Passeio Público, Lapa, Rio de Janeiro, 1957. Amanhecer .
-Quero cagar e não posso, a merda não sai, a merda está presa, vivem me clareando: o Cruz da brama Riachuelo deixa todos os motores ligados, e todas as luzes acesas para não me deixar cagar. O Silva da antártica da Gomes Freire, liga todos os motores elétricos, e todas as luzes do pátio acesas, para não me deixar cagar. Aquelas alemãs lá do café indígena, botam eletricidade junto com o açúcar no meu café, para não me deixar cagar; aqueles alemães do porto santo Antonio  jogam baralho a noite inteira com todas as luzes acesas para não me deixar cagar. Quero cagar e não posso, a merda não sai, a merda está presa, vivem me clareando, e até a pele do saco já está se soltando.
Terminado o discurso, pegou o saco de pano que tinha deixado no chão , colocou no ombro e se foi. No tempo que trabalhou e  morou no Stúdio Rembrandt, Marrecas esquina Passeio, primeiro andar , deve ter ouvido umas dez vezes. A plenos pulmões na praça. Havia também o garoto de tocava música em garrafas  com água colorida. Travestis, meretrizes, cafetões, contrabandistas,  gente de toda cor e todo jeito ali circulam. Certa vez foi salvo pela visita do general Craveiro Lopes de Portugal  que visitava o Rio e, quando a polícia   passou , o cafetão que  pedia explicações  por ter fotografado de graça uma de suas meretrizes, fugiu.
-A Lapa está voltando a ser a Lapa a Lapa confirmando a tradição a Lapa é o ponto maior do mapa do Distrito Federal Salve a Lapa o bairro das quatro letras até um rei conheceu onde tanto malandro viveu onde tanto valente morreu enquanto a cidade dorme a lapa fica acordada acalentando quem vive de madrugada, cantava Herivelto no carnaval de 50.
- O trio de ouro: Dalva , Nilo, Herivelto.
- Sasso , francês, fotógrafo, marido de Lorna, inglesa, primeira bailarina do Teatro Municipal; Noel Pinheiro Magalhães, paraense, fotógrafo, laboratorista, mestre, doutor. Levado por Fernando Abrunhosa foi  acolhido e conheceu equipamentos de ponta  e  alguns cobras da  fotografia como Luiz Carlos Barreto , Oto Stupakof, René Rouf, Sacha Gordine, diretor de Orfeu do Carnaval, Marpessa Dawn  e Breno Melo que contracenaram no filme. Ali também  ocorreram as primeiras conversas entre publicitários e fotógrafos , para organização profissional de modelos, que materializou-se com a criação da Socila.
Saiu no início de 58 para fazer serviço militar na Aeronáutica por dois anos: Base Aérea de Santa Cruz, (capitão  Matos e Tenente Jessé, cabo Amaral  e sargento Souza). Depósito Central de Intendência(Tenente Araguarino) em Marechal Hermes e na 2ª  Auditoria Militar, no Castelo,este último   conseguido por Vambach, pintor belga que atuava a muitos anos no Brasil e o recomendou ao Juiz Auditor Orlando Moutinho Ribeiro da Costa.
Estafeta  militar: S2 QIG FI 58 0804 239 dá baixa .
‘ Todo alistável é elegível’ era lema da UNE/UME.

Saíra  para o mundo em 55 com 17 anos. Fora balconista de ferragens e ferramentas quinze dias no Ao Regador; diagramador, calculista, cortador de papel e papelão operando facão e guilhotina durante quatro meses na Cartonagem Imperial em Petrópolis.
Ganhava meio salário mínimo, pagava condução, alimentação, hospedagem e ainda sobrava para ir nadar duas vezes por semana na piscina térmica do Hotel Quitandinha com direito a ducha no final.
Não era suficiente. Deixou a Serra e voltou para o Irajá na casa do tio Rubens, irmão mais velho da mãe e o único de Da. Amélia e do seu Jacinto , louro e de olho azul. Os outros puxaram mais pela mãe, que era Vargas, da qual os filhos não tiveram o sobrenome. Mais tarde soube que o sobrenome surgiu originariamente entre ciganos de Andaluzia.. O tio se virava como dava. Vendia flores em Finados, brinquedos no Natal, ambulante, feirante, peixe, pintos. Vendo que o sobrinho fazia duas semanas que procurava emprego, não tinha carteira profissional, e não encontrava, arriscou: A coisa ta difícil. Você é uma pessoa estudada, tem ginásio, não sei se você quer, mas amanhã vou sair para vender peixe. Vamos no mercado da praça quinze. A gente sai daqui as quatro.
- Xalerete, corvina, sardinha é aqui leva, gritavam nas bancas. Foram num boteco e comeram pão, sardinha frita e guaraná, pegaram quinze quilos e foram  gritar pelas ruas do conjunto residencial do IAPC  do Irajá: sardinha , xalerete, corvina fresquinha. Aqui e ali repetia-se o descer da cabeça dois cestos de vime – base e tampa -  uns oitenta centímetros de diâmetro, forrados com um emborrachado, gelo por baixo e por cima dos peixes, destapar, escolher, pesar, receber, tapar, erguer, equilibrar na cabeça, vender tudo até às onze, e o que sobrar, tá na mesa do almoço.  Feito o balanço, o tio perguntou: O que achou ?
- É interessante, trabalhoso e só dá para trabalhar até o meio dia.
- Que tal tentarmos amanhã com pintos de um dia ?
Vamos no Vasco  em Magno, perto de Madureira, Saindo de lá as sete horas está muito bom.
Dia seguinte seis da manhã tomaram o bonde, foram ao depósito onde milhares de pintos piavam, carregou cento e sessenta em quatro caixas, fez um amarrado e disse: Esse é teu.  E fez um igual para ele e foram para a rua.
- Vamos fazer juntos umas  três ou quatro vendas, depois a gente se separa e cada um faz uma rua paralela e nos encontramos em cada esquina. Vamos lá.
Olha o pinto de raça olha a raça olha pinto de raça olha a raça olha o pinto de raça olha a raça.
Os brancos são legorni, e os vermelhos rodes e niu rampxaire.
Legorn, poedeiras;  Rhodes, para peso e New Hampshire, cruza das duas,  eram poedeiras e boas de peso, eram pintos de granja que começavam a surgir com raças importadas. Moradores em casas no subúrbio criavam pequenos animais e era comum  ter galinhas com pintinhos novos , aos quais se juntavam os de raça. Às vezes era só para brinquedo de criança.
Quatro ou cinco quadras  depois desencontraram-se e seguiu em frente.Quatro da tarde estava próximo do conjunto residencial da Casa Popular em Deodoro e fez balanço.
Tinha ganho até ali o mesmo que doze dias na cartonagem. Colocou as  caixas na cabeça e saiu gritando : Olha o pinto de raça olha a raça pinto de raça olha a raça pinto de raça pinto de raça ... ganhou o equivalente a mais três dias, e assim passou quatro meses da safra, fazendo ambulante e feiras,  até que um encontro casual, ou arranjado pelo tio,  no centro de Duque de Caxias, o colocou frente ao padrasto que o convidou para voltar para casa. Aceitou e foi buscar roupas na casa do tio. Mas, a permanência seria breve.
  Numa volta pela cidade reencontra  Josias, colega de ginásio no Duque de Caxias, que  trabalhava com o jornalista alagoano Manoel Valadão, editor do 1º guia  de ruas da cidade, o DELTA , e que preparava lançamento do jornal Gazeta Fluminense. Convida para ser cobrador e agenciador de anúncios. Aceita no ato e vai cobrar  do Sabino  a quem vendera uma fotocopiadora, que já tinha sido revendida, apesar da reserva de domínio.
- Estou sem dinheiro. Volta  daqui há uma semana, me diz, naquele sotaque nordestino, tão comum na cidade, fruto das levas de paus-de-arara,que para lá afluíram, fugindo da seca, da enchente, da solidão... ou pedindo proteção de Tenório Cavalcante, o homem da capa preta, dono da Luta Democrática, para quem Sabino fotografava com a sua Speed Graphic 4x5”, flash lâmpada bulbo, filme plano,  também usada no estúdio, com refletores e lâmpadas fotoflood.
Cara bexigosa, barba por fazer, repetiu o “estou sem dinheiro” nas três vezes que lá esteve. Na quarta disse: Sabino, vejo  que você está em grandes dificuldades.
Eu quero aprender fotografia e esse trabalho de cobrador não me satisfaz. Se você aceitar, venho trabalhar contigo, desde que eu possa dormir no estúdio.
-Não tem problema. Eu também moro aqui. Tiro a cortina do fundo e cubro o chão para dormir. Banheiro     e chuveiro tem lá no fundo do corredor. E o da comida sempre se salva.
- Vou  ao escritório devolver esses documentos e em casa pegar minhas coisas e volto hoje.
Assim fez e mudou-se para o Foto Tip Top.
Iniciado pelo Sebastião Sabino da Silva em fotografar reportagem e estúdio, revelar, retocar, copiar, ampliar, preparar reveladores, banho interruptor e fixador , tudo para filme  em preto e branco. Conhecer   diafragma,  velocidade, distância, sensibilidade de filmes, e outros fotógrafos . Fotografia colorida era cara e rara. 
Ali ficou cinco meses quando chegou Péricles ,o careca, que tinha trabalhado durante muitos anos no estúdio do Bráulio, na  Praça Tiradentes, que associou-se ao Sabino e me arranjou para trabalhar e morar no estúdio do grego Omanolis  na  Cinelândia. Ali ficou três meses até ser levado por Fernando Abrunhosa  ao Studio Rembrandt , do Richard Sasso, conhecer Noel Pinheiro Magalhães que o convidou para ocupar  lugar de Fernando que ia para São Paulo. Acertou as contas e mudou-se. Aprimorou os  conhecimentos em equipamentos e técnicas, e  quando sobrava tempo ia na Biblioteca Nacional. Esperava Noel chegar pela manhã para o café numa leiteria na Visconde de Maranguape, embaixo da  sede dos Tenentes do Diabo, onde sempre estalava a língua e pedia uma coalhada. Almoçava ou jantava no Meu Cantinho ou na Spaghetilandia. Às vezes íam ao Congo, comer um “filé alto abafado ao alho” ou à Casa do Pará, comer um típico. Noel tinha gosto refinado. Tivera restaurante e estúdio em Belém e de lá saíra pouco depois do fim da guerra em 46. Mestre no laboratório e no comércio de equipamentos.
Fui com Sasso fotografar o ensaio geral  de  ‘O tempo e os Conways’ de J.B. Priestley n’O Tablado. Encantou-se . E também  na primeira foto feita no Brasil, para a Coca Cola.

Antes de dar baixa da Aeronáutica passara duas noites insones a procura de resposta, pois tinha dúvidas se continuaria em fotografia, quando veio a de que deveria dedicar-se a vendas, publicidade, promoção de vendas, relações humanas e públicas.
Por sugestão do Mira , professor de história no ginásio leu “Pequeno Tratado de Relações Humanas” de Fernanda Augusta Vieira Barcelos.
Associou-se a Manoel Valadão na Odin Publicidade e foi estudar publicidade e promoção de vendas no IPET – Instituto Promovendas de Ensino Técnico.
Desmanchou sociedade depois da quarta edição do Odin Notícias,  abriu e fechou  Foto BB e foi vender luminosos e expositores da indústria Paskin entre 60 e 61 , quando saiu Rio para descobrir o  Brasil.

Quando você me deixou meu bem, me disse  pra ser feliz e passar bem e que voltaríamos a nos encontrar no século XIX e se perguntassem por ti eu dissesse ‘que morreu mas vai bem’ e quando te pedi o Clã do Jabuti, edição 1927, dedicado e autografado por Mário de Andrade a teu pai, dissestes que ele não deveria sair dali e te prometi devolver tal como fizera com a Bíblia  que me emprestastes para que lesse o Evangelho de Lucas que tinha aparecido em meu sonho pedindo ser lido. Tudo em função da pesquisa antitóxicos, do audiovisual para a divisão de educação, e espetáculo para o sesquicentenário da independência.
Tínhamos passado o carnaval na Praia Grande e voltamos na segunda para evitar o congestionamento da terça. Deixei-te com as crianças na tua casa em Pinheiros e fui para a Lapa onde dividia apartamento com Mario, Alexandre, Barros, e Tom Luca que tinham viajado e deixado bilhetes elogiando meus desenhos em óleo pastel sobre cartão. Fechei um baseado e fui ler no Clã, Carnaval Carioca e Noturno de  Belo Horizonte. Depois fui buscar o gravador no estúdio onde faria o audiovisual , ensaiei e dormi. 
Na sexta-feira Cavalo faria o Sukiaki  e Tigre viajaria para o Rio, como fazia nos fins de semana.

Curso de Iniciação ao Teatro- 40 horas
Produção, Direção, Interpretação.
Segunda a Sexta  das 17 às 19 horas


                               A educação, de acordo com os conceitos mais modernos, se interessa especificamente pelo desenvolvimento físico, intelectual, emocional e ético dos jovens, A atividade teatral, bem utilizada na educação, em que se procura  em primeiro lugar, a criatividade e o auto-conhecimento,  pode ser elemento fundamental para o desenvolvimento do jovem através de uma nova utilização de seu corpo,  de sua maneira de falar e de controlar as emoções,  encorajando-o assim a melhor  se expressar e se comunicar.
                                A lista de vantagens que podem ser obtidas através da atividade teatral na educação pode ser bem vasta. Citemos algumas delas:
- desenvolvimento da imaginação
- aumento da capacidade de concentração
- aumento da capacidade de comunicação
- ajustamento da personalidade
- melhora do uso da linguagem oral
- desenvolvimento da capacidade de trabalho em grupo, pela aceitação de responsabilidade e pela  necessidade de cooperação com os  outros
- possibilidade de interessar os jovens  na literatura
- desenvolvimento de uma apreciação estética, etc..
Deve-se observar que, evidentemente, essa atividade não visa tornar cada estudante num ator amador, nem a induzi-lo a escolher o teatro como profissão.”

1 - Introdução. Finalidade. Jogos dramáticos. Qualidades do animador.Bibliografia. Temas: Chegada. Paredão.Engrenagem.

 2 - Interpretação. Controle. Imaginação. Sensibilidade.Temas: Passarinho ferido. Algas. Nascimento. Telegrama com sons tristes e alegres.

 3 – Uso de instrumentos de percussão.
Temas: Ritmo com tambor.

 4 – Temas: O enforcado. Água na prisão com tambor. Descoberta do corpo – mãos (ódio-amor). O incêndio.

 5 – Situações dramáticas. Temas: Os fugitivos na floresta com ritmo. Crime no fundo do mar.

 6 – Situações dramáticas. Temas: o bombardeio. Os cegos. O grito( no escuro) com tororó.

 7 – Temas: notícia no rádio. Prova na TV.

 8 – Situações cômicas. Temas: Os relógios. As pulgas.

 9 – Situações cômicas. Temas: O chofer maluco. A árvore e o aluno. A planta milagrosa.

10 – Tragédia. Temas: Festa e a morte. O louco.

11 – Leituras dramatizada. Estudo de inflexões. Frases.

12 – O palco. Noções de urdimento. Improvisações com palavras.

13 – O cenário. Palavras e elementos cênicos.

14 -  Iluminação. Refletores improvisados. Palavras.

15 – Figurinos. Pesquisa em bibliotecas. Palavras.

16 – Poema dramatizado. Caracterização. Maquiagem.

17 – Contra regra. Sonoplastia. Palavras e sonoplastia. 

18 – O espetáculo( publicidade, programas, cartazes, contacto com o público, problemas éticos, teatro infantil, repertório.

19 – SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Tema livre.

20 – Engrenagem. Temas livres. Encerramento. 

- Tornei-me  aprendiz de mecânica espacial, pensei, nas 40 horas de janeiro de 74  no Tablado .
AME. GAME,  GUEIME, JOGO.
GRUPO APRENDIZES MECÂNICA ESPACIAL. 
- Nossos exercícios estão no livro  ‘100 Jogos dramáticos’ de minha autoria e de  Marta Rossmann, e  textos teatrais,  e todos os assuntos sobre teatro estão na biblioteca e nos Cadernos de Teatro onde podem ser adquiridos números antigos, que nunca perdem a atualidade, disse Maria Clara Machado, na primeira aula. Poupem-me de falar do que está escrito. Leiam. Vão ao Teatro. Quem quer ser ator ou atriz tem que assumir que é exibicionista, gosta de se exibir,   e  fará todo o possível para exibir-se cada vez melhor.  E para mostrar que estão com muita fome de fazer teatro, mostrem essa fome subindo  para o palco.
Nele estava e  fiquei tendo aulas de improvisação com Clara. O exercício de semestre – Édipo Rei, foi dirigido pelo Damião.   Expressão Corporal com Susana Braga, durante todo o ano , uma vez por semana às cinco da tarde. Produzimos NOVES FORA.
À noite,  como ouvinte, fazia Escola Superior de Propaganda e Marketing.  
Ambas atividades me foram sugeridas por Antonio Pacot na minha volta ao Rio, saindo da depressão profunda. Para o fim de ano programei vinda a Porto Alegre, Caxias do Sul e Vacaria e para o ano seguinte seguiria no Tablado. Tinha um buxinxo no bulixo e fui ficando.


      Amaram-se como faziam desce o reveillon. Estávamos no ano do Rato, que recomenda economizar para os próximos anos. É um ano favorável às conservas, às geléias, às compras, aos empréstimos e aos investimentos.Embora aparente ser bom do ponto de vista financeiro, ele esconde a possibilidade de miséria nos anos seguintes. Politicamente...surpresas.
Acusações. Condenações...Ano favorável à literatura. Se seus filhos nascerem no ano do rato, mais felizes serão se tiverem nascido no verão.Para o Cavalo estava reservado um péssimo ano.O Rato fará tudo para prejudicá-lo. Prudência no amor como nos negócios... Para o Tigre não há outra coisa  a fazer senão prevenir-se..O ano será  para ele desfavorável. Não lhe trará nada. E para as Serpentes o ano seria agitado sem ser desfavorável. São bem prudentes. Entre Tigre e Serpente a amizade é possível e eles terão longos e apaixonantes bate-papos...
Os negócios não darão certo pois jamais conseguirão chegar a um acordo.
Evitar casamento. Incompreensão total e sem esperança. Sensatez e entusiasmo raramente dão certo. O  filho Serpente fará enormes  esforços. Incompreensão total. Filha Dragão será bem favorável para o desenvolvimento. A filha Galo agradará muito pouco ao Tigre...mas o tigre agradará ao Galo!
Já com o Cavalo prometem”excelentes relações mundanas...”
E, talvez, amizade sólida. Há possibilidades nos negócios. Será complicado mas favorável. No amor, casamento homem Tigre, mulher Cavalo será bom. A mulher Cavalo poderá satisfazer seu excesso de paixão e se manterá independente.Na harmonia entre pai Gato não será tão mal. Um pouco de humor, ferindo o Tigre, no seu orgulho, o ajudará. E com a mãe Cavalo um grande sim... O Cavalo deixará seu Tigre independente e o amará muito. Combinando o Tigre com o Leão, pelo fato de haver um tigre no seu motor, não se pode toma-lo por um leão...
 E ainda havia o Galo velho, que será sistematicamente contestado pelo enteado Tigre.
Invasão e  bombardeio norte-americano no Vietnam. Ditadura Médici no Brasil. - Vou trabalhar na Abril. 
Lançamento coleção livros didáticos ultrapassou o previsto.  Jamais houve na empresa retorno tão alto de mala direta - mesmo sem resposta paga –  em pedidos de  manual de professor e  livro de aluno, quanto o do proporcionado pelo envio do número zero da revista ESCOLA,  (outubro 71)  com o catálogo dos livros didáticos e da nova coleção, para 100.000 escolas urbanas  do Brasil,   graças às “sugestões para um programa de promoções da divisão de educação”
contidas na Comunicação Interna  de 6/7/71/DE-307
PARA    -   José Alcione Pereira
DE         -   José Oliveira Luiz
c.c.         -   E. Franco/G. Fernandes/E.        Moura /    U.Cava / Beatriz/Sílvio
p.c. Calazans Fernandes

Visando o desenvolvimento na área de promoções do programa traçado no documento “Política de Comercialização”, apresentamos para apreciação, sugestões e providências, o estágio atual e sugestões para execução futura.
1.- Organização do cadastro
2.- Calendários
3.- Bibliotecas Circulantes/Estantes de Isopor
4.- Cursos Intensivos e Seminários de Estudos
Delegados de Ensino do Estado de São Paulo
SEROP/SP
Desenvolveu  as idéias e conclui:
Dada a extensão, operosidade e curto prazo para a execução dos planos sugeridos (de maneira satisfatória a nível Abril) necessário se torna que tenhamos no menor espaço de tempo possível, uma secretária ou datilógrafa e máquina de escrever. O êxito da “Política de Comercialização” está condicionado à execução dos planos sugeridos.
Cordialmente
 José Oliveira Luiz
sup. de promoções.
PS:A qualidade do datilografado dá a medida da necessidade de máquina e  datilógrafa, além de reduzir sensivelmente os custos operacionais da DE.
- Faça sempre CI e manda pra quem achar que deve mandar, disse-me Beatriz Krasnianski, do setor de Projetos Especiais.
Com o tempo percebeu que havia um clima desagradável , com  o diretor da Divisão de Educação da Abril S.A Cultural e Industrial( que tinha sido secretário geral do Ministério da Educação, tempo de Tarso Dutra/Costa e Silva e era afilhado do Jarbas Passarinho),  que conhecí durante seminário da COLTED(comissão do livro técnico e do livro didático do MEC) e com quem pedi para falar , quando decidi  lá trabalhar, depois de dezessete anos de autônomo, sócio, gerente, dono de editora. E bem relacionado no meio.
- Tem sempre que ser sócio, gerente, dono ?
Vai trabalhar empregado, disse o Caldas.
- Diagramar, calcular, vincar, cortar papel e papelão em facão e guilhotina; cobrar, fotografar,  vender , editar, publicar, livros, publicações e periódicos, e encerrar empresas em São Paulo, Rio de Janeiro,Belo Horizonte  e Porto Alegre. Parar de viajar. 
- Vou te levar para falar com o José Alcione, nosso gerente comercial, disse, levantando-se e caminhando para a porta, após menos de dois minutos de conversa, Fomos até a salinha onde estava Rosa, a secretária, que disse que ele estava com o José Medeiros, e fomos entrando pela porta aberta:  Conversa com o José por que eu acho que é o que procuras e precisamos.
- Bom dia, sou José Alcione Pereira e este é o José Medeiros.
- O fotógrafo José Medeiros ?
- Ele mesmo.
- Bom dia. Eu sou José de Oliveira Luiz.
- Sente-se.
- Obrigado.
- Estou desde 55 na área gráfico editorial, conheço todo o Brasil. Direto na área do livro pra professores e alunas de magistério desde 62. Estou fechando e saindo de sociedade em editoras e distribuidoras de livros em São Paulo, Minas e Porto Alegre.
Meu último lançamento foi o Atlas Geográfico Contemporâneo,  consolidação cartográfica do Rio Grande do Sul em 12 mapas e fichas de texto para professores e alunos de 3ª série, quando se estuda o Estado. Conheço a situação da Abril no mercado e sei o que fazer para aumentar e melhorar essa posição.
- Tem uma vaga para projetos especiais, para viajar contatando grandes empresas e órgão governamentais,
e outra possibilidade de dividir a função de supervisor de publicidade e promoções, ficando o Ulisses Cava com publicidade e você com promoções.
- Estou viajando há dezessete anos. Quero ficar um pouco em São  Paulo com a família. E na função de supervisor tem um percentual sobre as vendas ?
-Não. Só de gerente pra cima. E o teto da função, é de três mil cruzeiros . Se aceita  está contratado independente do psicotécnico e de currículo.
- Tá bom. Aceito. Quando começo ?
- Hoje é dia 12. Documentos, testes, papeladas levam alguns dias. Que tal começar em primeiro de junho ?
- Boa idéia. Estou mesmo precisando trabalhar de empregado e escolhí a maior empresa gráfica e editorial . Se você não se importar, gostaria de vir uns dias antes para ir tomando conhecimento da empresa.
- Boa idéia. Vamos falar com o Joaquim que é gerente administrativo.
Despedi-me  dizendo: Santos Dumont foi um  bamba; Getúlio foi um batuta mas a dupla jota jota eta dupla filha da puta.
Era um escrito de banheiro do aeroporto Santos Dumont, dos idos de Juscelino e Jango.
José Medeiros, José Alcione Pereira e José de Oliveira Luiz. Saúde.
- Joaquim o Zé vai trabalhar com a gente. Vamos dividir  a supervisão de publicidade e promoções em duas .  Zé  fica  com promoções e Ulisses com publicidade.
-          Prazer.  Seja benvindo. Vamos sentar.
-          Obrigado.
-          Olha. Você precisa trazer a carteira profissional, certificado de reservista, título de eleitor, CPF, identidade, três fotografias, e vai no recursos humanos que eles vão marcar exames médico e psicotécnico.
-          OK. Vou buscar os documentos e volto ainda hoje. Até logo.
-          Até logo
Saí dali no fusca vermelho que tinha estacionado na Marginal e fui para casa almoçarmos. Ficaste muito feliz. Afinal, após oito anos de casamento, iria parar em casa. Onde não passou três. Era viajante.Não ia mais viajar. Iria parar em São Paulo. Assim imaginavas. 
‘Viajante viajado do tempo passado no tempo presente, pressente.  Remotos sensores afinam instrumentos...’ escrevera para a Rosa de São Luiz.
A carteira profissional havia sido mês antes. A fotografia marca 26/4/71. Atravessei o psicotécnico, o exame médico e fui finalizar com psicóloga que me perguntou se não encontraria dificuldades em me adaptar, após tantos anos de autonomia, e que pelo psicotécnico, eu estava acima do nível da função.
- Só se for por trabalhar menos do que estou acostumado. Sempre assumi tudo ao longo dos anos e agora vou cuidar só de parte.
Saí dali e voltei ao gerente que me apresentou o time: Gileno, Ulisses, Beatriz, Silvio, Vânia, Célia, Edmilson, Alfeu.
Ulisses passou-me o que havia de promoções e indicou-me outros nomes em outras áreas da empresa com quem poderia me articular.
- Tudo o que for apalavrado bota em CI – Comunicação Interna a todas as pessoas envolvidas. 
- Não deixa de mandar para o Calazans, coordenador de projetos especiais e dos escritórios regionais. E se achar necessário manda para o Roberto ou seu Victor, acrescentou a Beatriz.
Não sei quantas fiz nos quinze meses que lá passei.
- Tudo bem pessoal. Sei que vamos nos dar muito bem e tirar o atraso. Até amanhã.

Toda atividade humana tem seus gestos, falas, alfabeto, glossário, unidade temática, universo vocabular, nomes, rostos e contraditório. Conflito, dizem outros. Teatro GAME – Grupo Aprendizes Mecânica Espacial, arte da simulação, simula ação. Radicaliza, situa, personifica. Equaciona movimento, espaço, tempo. Age. A paixão move o ator, e o desejo, o ser humano.
Ator ou atriz atuam. Atuador. O corpo é instrumento do ator. Produtor e agente do ato. Inteiro gesto: respiração, dicção, voz, imaginação, sensibilidade, improvisação.
Instruir-se é conquista pessoal
 de aprendiz, amador ou profissional.
Do saber nasce a confiança.
Com ele não há medo;
 sem ela não há esperança.
Mais vale experiência frustrada,
 que frustração não experimentada.
Se amador: maior rigor. Se escolar : não visar espetáculo, nem transformar aluno em amador, profissional ou esporte de competição, mas apropriar arte ou linguagem específica – leitura, interpretação, representação – que é patrimônio cultural humano consolidado há mais de 2500 anos.
-          Triste, alegre, ou nem alegre nem triste? ? tragédia, drama ou comédia? Trágico, lírico ou operístico ?
-          Musical e dançante. Tragicômico lírico !
Lê, relê, interpreta, ensaia, erra, acerta, desacerta, ensaia, ensaia... encena. Encenação.
Ensaio, erro, acerto. Essência de ciência. Ato em cena. Atuar:
- o ato reintroduz no cotidiano, linguagem poética e pratica teatral, reatando percepção crítica e criativa da realidade.

- O Atelier de Teatro da  Aliança Francesa surgiu em 58 por iniciativa de Nilton Carlos Scotti, que atuava no Teatro do Estudante, em Porto Alegre, e quando voltou a Caxias, convidou alguns amigos para fazer teatro( além de Scotti, ninguém mais tinha experiência ou conhecimento do assunto).
De acordo com David Andreazza, um dos ex-
integrantes do Atelier, os primeiros espetáculos eram financiados pelos próprios atores. Eles compravam ingressos e distribuíam aos amigos e parentes. Era preciso convencer as pessoas a ir ao teatro.
Nos dois últimos anos  de existência do grupo, já não era preciso fazer isso, ao contrário.  Surgiam convites para apresentarem-se em Porto Alegre, Punta Del Leste e Brasília. Em dezembro de 1962 , a peça ‘O Cavalinho Azul’ de Maria Clara Machado, foi apontada pelo jornal Correio do Povo como um dos melhores espetáculos do ano.

Esse grupo, tão marcante para a história do teatro caxiense , teve sintoma de fim em 63, quando chegavam em um estágio em que seria necessário profissionalismo e não receberam incentivo. O prédio onde ensaiavam e apresentavam e se apresentavam(72 lugares sentados) foi requisitado. Sem terem onde ensaiar, com cada um assumindo compromissos profissionais e em grande parte por influência do golpe militar de 64, ( a prisão de Darwin Gazzana) separaram-se.
Seguiu-se então um período de obscurantismo total no que tange à cultura em nossa  cidade. Castrada pela ditadura, a imaginação pareceu encolher e por longos anos não se fez nenhum teatro.
Preenchendo esse vazio, surge o grupo de teatro do Recreio da Juventude em 1975. Naquele ano o clube promoveu um curso de iniciação ao teatro com um diretor carioca, do qual participaram cerca de 80 pessoas. No final do curso, formaram-se vários grupos que apresentaram trabalhos de conclusão, e um deles se estruturou melhor, e encenou  na estréia,  ‘A Gramática’ de Eugene Labiche.
 Depois da estréia , Luiza Helena Darsie, que pertencia ao departamento jovem do clube, foi cedida pela prefeitura, (que também tinha dado duzentos mil cruzeiros para a construção do teatro) para dirigir o teatro. Ela dirigiu ‘ O começo é sempre fácil...o difícil vem depois’ de Nilton de Moraes Enery e ‘Boneca Tereza ou canção de amor e morte de Gelsi e Valdinete’ de Carlos Carvalho., que assistiu a peça e disse’ ter visto a montagem que idealizava para ela.’
O Teatro fechou em 77 porque a prioridade da nova diretoria passou a ser esporte de competição.
- Era um inferno ensaiar naquele lugar. Mezzanino do antigo Cine Central, não tinha isolamento acústico para deter o barulho dos jogos de basquete, vôlei ou judô, na quadra construída no térreo. Quando precisava fazer apresentação tinha que se entender com muita antecedência com o ‘esporte’, além da censura. 
- Muito bonito porém inútil, diria  Gabriel, (o corvo) parceiro de Dijalma, colega de EPOL.
-          Já que tinha dado minha contribuição ao teatro, e eles conseguiram outra pessoa, fui dar seqüência ao ressurgimento do teatro, difundindo coleções de Cadernos de Teatro, publicação d’O Tablado, nas escolas,  disponibilizadas por Maria Clara Machado, quando lhe fiz o relato da atuação  e mostrei os recortes de jornais do início.
-          Zé você fez ressurgir o teatro em Caxias, exclamou alegremente Suzana Braga, bailarina que dava Expressão Corporal, e com quem atuei no ‘Noves Fora’, trabalho de ano.
Dei novo curso no Museu Municipal.
- Que poesias você dizia ?
-          Sinfonia da Solidão


Nas águas paradas, hialinas; cativa,
A larva de pernilongo é uma vírgula viva!

A lagoa tem um tremer de seios
Nos seus balanceios!

Tenho raiva de pernilongo.
“-Soziiinho ? “
Interrogação do violino da solidão.

“- Soziiinho ?”
Foi sozinho ou benzinho que você disse ?

Só pode ser sozinho.
Ave de arribação, ave sem ninho
Desce aqui... desce ali...

“-Soziiinho ? “
Sozinho, sim...

Sinto bater à porta.
Seria a esperança ?
Não. A esperança é morta.
Mesmo assim escancaro a entrada.
 Não é nada.
Um pernilongo estoura em meu ouvindo, tinindo:

“-Soziiinho? ”

Faço dueto com o pernilongo especulador:
- Sozinho , meu amor...
Tenho a impressão que se você chegasse,
eu talvez nunca mais escutasse,
neste quarto solitário e sem carinho,
esta amolação:
“- Soziiinho? “ “-Soziiinho? ” “- Soziiinho? ”


O FILHO ADOTIVO

É tão bonito o meu cão
Paina,
floco de algodão!
Branco, mas tão branco!
A paz dos homens de boa vontade deve ser assim!

Tem um rabinho alegre, de abanar!
Quando chega perto de mim
tem ganidos de prazer,
tem carinho no olhar contente!
O meu cãozinho até parece gente!
Adivinha, com aquela carinha de meia lua,
a minha saudade que é tua!

Mas, outro dia eu vi um menino
com cara de cachorrinho sem dono!
Vagava pelas ruas, não de lata em lata,
mas de bolso em bolso, de porta em porta:
- Me dá um dinheiro ? – Me dá um dinheiro ? 
- Me dá um dinheiro ? – Me dá um dinheiro ?
Era um menino vira-lata brasileiro!

A roupinha velha!
A camisinha suja !
O sapato roto
O ensebado gorro...
Garoto de vida bem pior que vida de cachorro !

Era uma vez o menino vira-lata brasileiro.
Hoje, ele é meu filho
e nunca mais pedirá de porta em porta:
- Me dá um dinheiro? Me dá um dinheiro
Tão bonito é o menino
que até parece Jesus.
É um doce beijo de luz!
Estrela de noite escura!
Branco, mas tão branco!
A paz dos homens de boa vontade deve ser assim.


Tem um sorriso alegre e tão contente.
Os seus olhos são iguais aos teus.
Se o meu cãozinho até parece gente,
o meu menino até parece Deus !


MEU FILHO

Oh! deita no meu peito!
A noite é curta para os meus sonhos
de amor e de abandono.
Sonhei fazer-te dos meus braços o leito.
Sonhei fazer deste teu corpo nu
o porto, temporário ancoradouro,
do meu navio de carne e de pecado.

Perdi os meus olhos de menino e de criança.
O riso bom ficou na encruzilhada poeirenta
das rotas rotas pelas invernias.
O meu riso de água cristalina
o mundo turvou de águas de enxurrada.
Mas, sou um homem, mulher.
Um Homem que possui todos os defeitos
que um Homem deve ter para ser Homem.

Tu serás agora a terra fêmea
para a semente que eu sonhei plantar.
Meu filho!
Meu filho será um poeta! Será um varão!
Um poeta por certo e da miséria.
Será a voz gritando, quando cala
o covarde diante do chicote.

Meu filho será um poeta! Será um varão !
Saberá passar a noite toda andando pela rua,
enquanto a lua anda na amplidão
e saberá enfrentar  a noite escura
da enxovia santa da verdade.

Meu filho será um poeta! Será um varão!
Saberá o cantar do arvoredo,
a cantiga menina de esperança
e maldizer no centro de uma praça
a fome de um menino abandonado.

Vem, terra mulher.
Deixa o meu navio de carne e de pecado
ancorar no teu porto cor de rosa.

Anda depressa mulher.
Ouve. O meu povo já clama por meu filho
nas greves e nos comícios de revolta
atrás das barricadas.
Vamos tirar algumas horas
das centenas de horas
de nove meses de espera ?

Tens dono ? Não ? Melhor.
Eu não devo plantar em terra alheia.

Tens dono ? Tens? Melhor... Melhor... Melhor...
Todas as terras são de todo mundo.

Tens nome ? Não ?
Que importa agora ?
Te chamarei de bela e sedutora.

E quando surgir a aurora
da grande libertação,
o teu nome será lembrado
do cais do porto até os cafezais.
De todos os latifúndios divididos
á casa do operário e do camponês.
Oh! Deita no meu peito...


SAUDADE DE UMA LOUCA DE GUERRA

Estas mãos enrugadas e feias
foram as mesmas que fizeram
com o cuidado das aranhas ao tecer sua teias
as blusinhas, o babadouro, as faixas,
o calçãozinho, o gorro, as meias!

Depois,
como ave com asa criada,
voou
e me deixou quase nada!
Para a mãe quase nada.
De vez em quando um beijo.
Faz tanto tempo... Eu ainda o vejo...
Todo mundo me dizia:
’- Como cresceu o seu filho!
    Está mais alto que você!’
Não. Não. Ele era o meu bebê!

Um dia apareceu fardado,
vestido de soldado. Disse que ia partir...
Eu comecei a chorar.
Ele se pôs a rir...
Pedi, implorei que ficasse...
Sorrindo respondeu que se eu não chorasse
um dia voltaria...
E lá se foi o meu filho para a guerra.
O meu moço menino,
o meu menino criança,
a minha criança esperança.

E vem o senhor perguntar o que há de ser saudade ?
Saudade sem fim é não ter lágrimas para chorar
É chorar aqui... no coração...
É a gente a pensar: ‘Ele volta sim... Ele volta sim...’
e o governo a dizer: ‘ Ele não volta não... Ele não volta não...
Saudade é sentir falta até de má-criação!
Saudade é este papel: ‘Morreu.’
É esta medalha: ‘ Morreu.’
E é a saudade que me faz escutar a toda hora:
“ – Mamãe... Mamãe... Voltei... Voltei...
      Sou eu... Sou eu...”

Se a guerra, mãe maldita,
não quer devolver o meu filho grande,
devolva ao menos o pequenino...
devolva o meu menino
ou então traga-me o que restou dele...
Eu quero fazer para ele apenas
um canteirinho de rosas e açucenas!


ORÓS

A chuva chegou , devagarinho,
como quem não vai ficar.
Deu um banho de chuveiro
no cajueiro menino
lá da porta do curral.
Zefa ria de contente;
meu filho pôs-se a chorar.
Peguei Raimundinho de ano
e botei lá no balanço
da rede de buriti...
Ficou pra lá... e pra cá...
 Miado de gato com fome ,
a rede pôs-se a miar.

“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”

“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede.
Morte, chuva não traz”.

“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”

E choveu o dia inteiro.
E choveu a noite inteira.

“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais”!

“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede,
afogado na poeira
que o sol jogou no sertão.
Plantamos e não colhemos,
pois a seca disse:”- Não!”
E, quando a chuva chega,
tu ficas a reclamar ?
Não pode mesmo ser muito
quem nunca vem pra chegar...”

“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais.
Vamos pegar o menino
E botar o pé no mundo
Que isto não é vida não.
A gente escapa da seca
Vai no dilúvio afogar ?
Zefa, junta os teréns e o Raimundo,
Vamos tocar o pé no mundo,
Vamos embora do sertão.
Esta terra é maninha
E é madrasta também.
Zefa , junta os teréns,
Jaguaribe-jararaca
“ta” virando sucuri;
desde que me entendo por gente,
chover assim nunca vi!”

“- Deixa chover, Zeferino.
Vamos ter cangica nova,
vamos plantar arrozal;
vamos engordar um porquinho;
paçoca, pamonha, pão...
Vamos aumentar a família:
um Raimundinho só não dá!
E quando os meninos crescerem,
A Zefa vai descansar...
Deixa chover, Zeferino...”

E veio a enchente bravia:
levou a casa da Zefa,
levou a Zefa afogada
e o Raimundinho também,
por estes mundos de Deus...
Abriu uma estrada, um caminho,
de sofrimento e de dor...
E, sem Zefa, sem rancho,
sem Raimundinho, sem nada,
o Zeferino, na estrada
segue falando sozinho:

“ Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais...”





REDENÇÃO DE ORÓS


Que cheiro de terra na terra batida!
Que gosto de sangue na boca sedente!
Que cheiro de gente, de gente batida!
Que gosto de sal na água falida.
Que cheiro-miséria suspenso no ar!
Menino me escuta, eu quero contar...
Não espere brinquedo não tenho pra dar.
Não espere canção, não posso cantar.
Não espere da terra. A terra não deu.
Espere um poema. O poeta sou eu.

Que cheiro de terra eu sinto, mulher...
Semente é ser homem que pode plantar
Semente de gente no altar do teu ventre.
Futuro da pátria ´fruto do amor.
Futuro da terra é flor  ser semente.
Futuro do chão é semente plantar.
Mulher, vem, me escuta, eu quero contar!

Oh! homem sem filhos, oh! carne de dor!
Estátua de ossos vigiando os destroços.
Estátua de músculos destino de cova.
Estátua deitada, sem praça, sem fé.
Estátua de quem morreu trabalhando.
Pedaço de gente não mora no mármore,
mas mora na boca de quem vai falar...
Oh! homem ... me escuta, eu quero contar...

 Um dia eu sonhei ser poeta do povo.
Ter povo na boca e no coração.
Ter a alma nos olhos, caminhos nos pés.
Ter rosas nos dedos e um mundo na mão.
A fala de um Deus. Ser criança  no olhar.
Menino, me escuta, eu quero contar...

Vi seca no norte, vi fome e pobreza.
Vi a mãe natureza, madrasta sem par.
Vi loucos correndo da sede maldita.
Vi boi afogado num rio de poeira.
Vi o olho do céu sem nunca piscar.
Senti nos meus pés a ponta do espinho.
E vi, sem caminho, crianças mirradas.
E vi sepultura no bico do corvo.
Dois homens eu vi, de faca na mão,
lutando por terra, por causa de pão.
E vi um cachorro, tão magro, faminto,
Costelas lutando pra vida vencer,
Levando nos dentes já quase perdidos,
As pernas perdidas de alguém, no caminho!
Gritei: Maldição! Será que é Brasil ?
Será que é Brasil ? Oh! fome-desgraça!
Será que é Brasil ?  Oh! Pátria quimera...
Será que é Brasil ? Meninos fugindo...
Será que o Brasil é a Pátria da esmola ?
Será que o meu Cristo já viu padecer ?
Será que Jesus já viu a caatinga ?
O chão falecido sem gota de chuva ?
A boca partida com gosto de sangue ?
Os pés suplicando um mato no chão ?
E a terra queimando a entranha da gente ?
Num berço de espinho, criança nascer ?

E a mãe soluçando, sem gota de leite,
deixar o filhinho de fome morrer ?
E os olhos de louca, perdidos  no chão...
cabelos ao vento, malucos, no ar...

Menino, me escuta, eu quero contar...
Espere a verdade. O tempo é verdade.
Espere a esperança. A saudade fugiu.
Espere sorriso. Futuro nasceu.
Espere um poema. O poeta sou eu.

Poema de Orós plantado no rio.
Poema de vida suspenso no ar.
Mulher, vem, me escuta... eu quero contar...
Não espere um abraço, não tenho pra dar.
Não espere cegonha. Cegonha já veio.
Não espere meu beijo na ponta do seio.
Meu peito não pode ser de outra o retiro.
Meu amor eu já dei e eu tinha pra dar.
E eu sei que já dei com gosto e alegria,
esperança surgindo na casa do olhar...
Meu amor semeando no campo que é meu...
Espere um poema. O poeta sou eu...

Oh! homem vergado ao peso  da enxada.
Oh! homem sofrendo, faminto, perdido.
Oh! homem sem terra, sem casa e mulher,
Escuta o meu choro. Eu quero chorar.
Um choro baixinho. Um choro sem par.

Do choro dos homens o açude surgiu.
Nasceu meu açude na boca do rio.

Nasceu teu futuro, menino esmoler.
Nasceu minha hora de estar com mulher.
Nasceu um pedaço de chão no deserto,
pra ser dividido pro Jeca plantar.
Reserva de riso pro choro de alguém.

A sede morreu no lago plantado.
Esperança surgiu do lago nascida.
O sol já é pai. Morreu o carrasco.
O sol faz nascer a sombra fresquinha
e a sombra é perdão à beira da estrada.
O sol não é sede, é suor no trabalho,
Que traz a riqueza no passo da gente.
Óros já nasceu ausência de sede.
Orós é adeus ao sangue na boca.
Orós é adeus  trabalho de escravo.
Orós é o templo, surgido do chão.
É o tempo sem tédio, surgido do nada,
É o templo do tudo do meu coração.

E acho que agora eu sou mais cristão.