segunda-feira, 13 de julho de 2020

Décio Bittencourt -poeta do povo





Décio Bio Carta Irene,15/08/ 1998

José Luiz

1º.Que se encontrem bem de saúde: você e aqueles que lhe são caros.
2º. MAGNÍFICO SEJA O SEU ! 21 de agosto “.
3º. em atraso com referência aos dados biográficos do Décio. Aconteceram dois fatos imprevisíveis e desagradáveis. Perdoe-me..
Cancele o que for desnecessário, acrescente o que quiser ou faça as correções onde se fizerem convenientes. O.K. ?

DÉCIO BITTENCOURT, filho de Otto Bittencourt e de Clotilde Hélène Purrat Bittencourt, nasceu em São José do Rio Pardo, Estado de São Paulo, aos 18 de abril de 1924. Aí passou sua infância e sua adolescência.

As atividades que mais apreciava nesse período eram : natação e pescaria no Rio Pardo. Na escola demonstrava uma acentuada pendência pelos estudos de Literatura e História. Memorizava um incontável número de poemas, particularmente Guerra Junqueiro.

Graças à excelência de seu timbre vocal, foi, durante anos, locutor da Radio Difusora de sua cidade, assim como Instrutor do Tiro de Guerra da unidade alí sediada.

Abandonou seus estudos quando cursava o 2º Colegial, para trabalhar, em São Paulo, como locutor da Radio Record, desligando-se dessa emissora em em 1951, ao casar-se com Maria José Villela. O casamento durou dois nos; desquitaram-se e em 1959, Mª José vem a falecer( por ingestão excessiva de soníferos ).
Duarnte essa fase, Décio tornou-se uma pessoa sem nenhum objetivo na vida: empregos instáveis, bo~emia, mulheres,,,

Em 1961, casa-se com Irene Taujanskas. Daí nascendo Décio e Roberto, Torna´se gerente de vendas da Editora “El Atheneo “ (Argentina ). Alguns anos mais tarde, resolve concluir o Curso Colegial, depois ingressar na Faculdade onde frequentou dois cursos: Letras e Estudos Sociais ( Faculdade São Marcos- São Paulo, SP). Escolas públicas, municipais, e Liceu Eduardo Prado ( particular ), passam a ser seus locais de trabalho, ministrando aulas de Lingua Portuguesa e de Estudos Sociais, carfos em que permaneceu até 7/3/81, quando foi acometido por um enfarte do micárdio. Por determinação médica, afastou-se de suas atividades profissionais.
Redigia contos sobre etapas marcantes de sua vida, quando aos 22 de abril de 1994, por complicações cardíacas veio a falecer, em São Paulo,SP

Sua obra: De 1955 a 1985, escreveu quatro livros de poesia: “ Agruras “; Nasce uma flor vermelha”; “Ano 2000 “ e “João da Ponte “.

Gravou cinco discos, a saber: dois Long Plays e três compactos, com poemas próprios, com exceção de um destes, produzido pela Copacabana Discos, pela passagem do “ Dia das Mães “, com poesias suas e de outros autores.

José Luiz, agora, a análise das obras deixo para você,
Só posso afirmar que o Décio era um observador arguto das coisas da natureza: sons, insetos, pássaros. Tudo enfim.

Basta atentar para a harmonia imitativa em suas onomatopéias; no sentido figurado de suas metáforas. Não é verdade ?
Acho também que era antagônico, por exemplo: 1- Sua face romântica: nota-se ingenuidade, pureza, predominância de lirismo, elementos sensíveis, espontâneos e seus versos de amor; 2- Sua face realista, social: aí é diferente, transforma-se em uma pessoa revoltada, combativa, contra as injustiças sociais. Neste aspecto é enérgico, enfático, um guerreiro. Certo ?
Sempre dizem que a força maior dele estava na DECLAMAÇÃO. Ele participou de muitos recitais, na capital e no interior: nunca conheci alguém que o superasse. Era incrível o domínio sobre o auditório: notava-se uma reciprocidade, um cumplicidade, uma troca, entre o poeta e o público. Não sei explicar...
Sabe, tenho certeza que você também tem esse dom, pelo pouco queouvi no telefone. Voz tonítrua, timbre fantástico e interpretação magistral .
Chega ? Qualquer dia desses escrevo contando coisas hilariantes do Décio. Está bom ?

Irene

É preciso dizer : NÃO “

Olho pra dentro de mim
E quedo, quieto, quente
Arranco de meu cerne
Esta dura dor de dente

Os magos que vão chegando
Com mirra, incenso e rezas
Fiquem lá fora no caos,
Transponho minhas montanhas
E caio no infinito...

A saudade anda ancorada
No coração de granito !

Não tenho, Não sei. Não quero.
De nós todos sinto nojo
È preciso dizer não
A todo este empecilho
A coragem – esta bandida -
Escorrega, cai e quebra
No sorriso de meu filho,,,

Preciso gritar que chega 
Mas ando de pernas bambas
E o frio de medo na espinha
É a bainha da espada
Daquela coragem que eu tinha,,,,

Não consigo dizer NÃO
Um NÃO de encher a boca
Fica um não tão pequenino
Que da janela quebrada
Pela mão de meu menino.

Mas preciso dizer NÃO !
Preciso dizer BASTA !
Preciso dizer CHEGA !
Vocês são plantadores
De sangue no meu caminho !

1964


PRECE DE AMOR

No chão a lua é minha e tua – Posso Sonhar
Do céu parece parece vir uma prece – Prece de Amor
Olho teu rosto à luz da lua – Minha Amada.
E ao luar te beijo a boca tão desejada.

Depois na areia do chão, lavada, sou teu par
Te pego e amo bem devagarinho – Meu Delirar
Te pego e te deito neste meu peito – Vamos Sonhar
Ai !quem me dera a vida toda não acordar.

Beijo tua boca enluarada – Minha Rainha
Posso sentir: É minha...minha... é muito minha
De pernas abertas para a lua te ouço dizer:
Sou tua...tua,,, somente tua...seu bem querer !

E no teu cerne de alabastro – semeador
Entre uma estrela, perto de um astro, sonhador
No teu útero-mãe, imaculada – Conquistador
Deixo meu filho plantado – Nosso Senhor

No altar de teu ventre infinito – mas que luar !
Nascerá bendito, será bendito, posso parar !
Me sinto pai ! Me sinto Deus e criador !
Me sinto pai ! Me sinto Deus e criador !
Ninguém no mundo gerou um filho com tanto amor !


Esta foi a última do Décio Bittencourt, 1994 segundo Irene.