TEATRO EM CAXIAS DO SUL
RECREIO DA JUVENTUDE VAI FAZER
TEATRO
Mais um grande tento acaba de ser marcado pela diretoria do
Recreio da Juventude: ele vai criar um grupo de teatro.
Acontece que desde há anos um jovem amante do teatro gosta
de Caxias do Sul e de sua gente, tendo assistido aqui a apresentação do Atelier
de Teatro. Trata-se de José Luiz, o Zé, de 37 anos de idade, e que, no Rio de Janeiro, estudou teatro com Maria
Clara Machado.
VAI HAVER TEATRO
Zé esteve no Recreio da Juventude ao saber que o clube
estava construindo um teatro, e, ao
falar com Flávio Ioppi, recebeu do presidente do Recreio o convite para
organizar um grupo teatral. Ficou decidido, a princípio, que o teatro do Recreio da Juventude vai ser
inaugurado no dia 10 de maio e acharam
que o bacana mesmo seria inaugurá-lo logo com um grupo daqui. E foi
fundado o GAME – Grupo de Aprendizes Mecânica Espacial. Vai haver, agora, um
curso de iniciação ao teatro, com inscrições já abertas na Secretaria do
Recreio, sendo que as aulas vão começar no dia 2 próximo, nos horários de
segunda a sexta-feira, das 17 às 19 horas e das 19 às 21 horas. Aos sábados,
depois das 17,30 e nos domingos depois das 16 horas. Do curso é que deverão
sair os artistas para a peça que inaugurará o Teatro do Juventude. A peça será
criada pelo próprio grupo e o tema é “ O ônibus das seis”. Segundo Zé, teatro é
uma iniciação também à profissionalização na arte,. “ E muita gente se encontra
numa profissão fazendo
teatro”, disse ele. E é isso aí. Esperemos o teatro do JU.
(Pioneiro – Caxias do Sul, 29 de março de 1975)
Teatro: Uma Arte Que Ressurge
em Caxias.
Caxias do Sul, desde o início do século tinha teatro. E bom.
Alguns artistas, amadores caxienses e de outras cidades, chegaram a formar
atrações para as peças. Estas quase sempre eram repetidas pelo menos três vezes
devido ao sucesso. No começo o teatro caxiense era falado em italiano. Depois
em ítalo-brasileiro.
A falta de uma casa que fosse só teatro, pois as que haviam
receberam telas e transformadas foram cinemas, iniciou a decadência do teatro
caxiense. Depois de vinte anos, agora o teatro, como arte, ressurge: com duas
divisões, uma que defende o teatro tradicional e a outra que apóia
incondicionalmente o teatro moderno.
ANTONIO MANO
O português, radicado desde criança em Caxias do Sul,
Antonio Domingues Mano é, talvez, a maior autoridade em teatro caxiense. Ele
participava de pontas de teatro em 1918 quando Corina Conte, uma caxiense era
um sucesso tão grande que uma companhia italiana, não fosse a obstinação dos
pais, te-la-ia levado para as ribaltas da península.
Mano conta que o teatro começou em Caxias do Sul por volta
de 1915, com amadores italianos. O centro das apresentações era o Clube
Juvenil. Depois houve uma parada.
Por volta de 1929-1930- segundo Antonio Mano – as peças
ressurgiram. Havia grupos que as apresentavam em italiano e outros em
português. Surgiram nesta época o “Doppo Lavoro” grupo teatral que significa
“Depois do Trabalho”. Após o trabalho dedicavam-se de corpo e alma ao teatro.
Mano conta ainda que
o Círculo Operário Caxiense, com a contratação do ítalo-brasileiro, Tancredo
Leal, chegou ao sucesso com a peça “O Mártir do Gólgota”, que foi repetida seis
vezes enquanto as pessoas que não conseguiam lugar ameaçavam derrubar o prédio,
pois não queriam esperar para ver os êxitos de então.
O clímax do Teatro Caxiense ocorreu entre 1935 e 1940 quando
até peças locais eram levadas ao palco. Uma delas “Caxias em Flagrante” de
Décio Vianna, tinha dezenas de figurantes, uma orquestra completa e o sucesso
foi absoluto.
“Naquele tempo- explica Mano- a gente vendia ingressos de
fábrica em fábrica e assim se podia ao menos cobrir as despesas. Ninguém
ganhava nada, mas todo mundo fazia questão de trabalhar. Lembro-me de peças
como “ Se o Anacleto soubesse”, ” Os dois surdos” etc.,que repetimos muitas
vezes. E o sucesso era estrondoso”. O cinema
e os meios de comunicação( a televisão) ajudaram a que o teatro caxiense
declinasse vertiginosamente. Mano se
recorda que muitas companhias nacionais, às vezes, não chegavam a igualar ou
superar em sucesso, aos êxitos das companhias amadoras caxienses.
O principal problema entretanto foi a falta de uma casa onde
só houvesse teatro. A “Alliance Française” com um grupo local resistiu durante
algum tempo e chegou a apresentar bom teatro.Nilton Scotti, Darwin Gazzana e
outros eram os labutadores. Ítala Nandi surgiu desta escola.
O TEATRO VOLTA
A 10 de maio próximo, os caxienses que há seis meses
perderam o Cine Central, terão de volta um teatro, quem promete é o presidente
do Recreio da Juventude, Flávio Ioppi. A peça “ A Gramática” de Eugène Labiche,
será encenada por um grupo local que está sendo ensaiado pelo carioca José Luiz. Em seguida haverá apresentação da
peça “Ônibus das Seis” , do próprio grupo.
Uma sala com um palco bem feito, com 250 lugares( poltronas
de fibra de vidro) será inaugurada a 10 de maio. Uma pesquisa levou o Recreio
da Juventude a construir no antigo Cinema Central um teatro.
O presidente Ioppi é quem diz: “ Se as peças alcançarem
sucesso maior, serão repetidas tantas vezes quantas forem necessárias. Mas a
capacidade da sala facilita aos atores e mesmo é resultado de uma pesquisa
feita em Rio e São Paulo”.
Mas não só pelo Recreio da Juventude e seu grupo teatral, o
teatro voltará a Caxias do Sul. “Todo grupo que surgir será apoiado pelo
Juventude - segundo Ioppi - e faremos questão que utilizem nossa casa. Afinal o
clube deve retribuir algo à comunidade caxiense”.
OPINIÕES
Darwin Gazzana, antigo membro do Teatro da Aliança Francesa,
responsável pelo êxito de peças que marcaram época como “Cavalinho Azul”,
“Pluft, o fantasminha” e outras, acredita que agora haverá mais condições para
a formação de grupos de teatro.
Flávio Ioppi diz que a renda ou a receita não é a
preocupação do Juventude com seu teatro:
“ nós queremos fazer uma casa de cultura e não um local que nos garante
dinheiro.Agora, mesmo em virtude disso, peças de baixa categoria não serão
permitidas. Nossa intenção é entreter e educar”.
Antonio Mano não só acredita que o teatro vai ressurgir em
Caxias do Sul como ele próprio se dispôs a volta ao palco. “ O teatro – explica
- deve educar e instruir. O palavrão não cabe ao menos no teatro amador. Eu
acredito mais no teatro tradicional. Gosto do teatro moderno, mas sou contra
coisas sem nexo que às vezes levam a rubrica de teatro”. E conclui: “E se
precisarem de mim estarei sempre às ordens”...
Renato Henrichs, secretário do “Jornal de Caxias” não é
contra o teatro moderno em Caxias do Sul. “ Eu só acho que para começar o pessoal
deveria apresentar uma coisa que facilitasse sua compreensão pelo nosso público
que não está acostumado a ver teatro”.
Valdir dos Santos, do Departamento Cultural do “Centro
Cultural Brasileiro Norte-Americano” igualmente acredita na volta do teatro. E
adverte:”O teatro deverá antes de mais nada atrair o público.E nós não estamos
acostumados a ver teatro por aqui. Eu acredito que o teatro moderno é ainda uma
série de experiências”.
A opinião de Darwin Gazzana é de que o teatro tradicional
deve continuar e o teatro moderno igualmente.Deve haver uma coexistência.
TEATROS X CAXIAS
Caxias do Sul possui um grupo teatral amador “Ribeiro
Cancela” que é dirigido por Amirante João Francisco. Peças populares foram
levadas a todos os bairros e cidades vizinhas.Com restrições da parte de
alguns(... “as peças deprimem e deseducam”...)e com aplausos do público.Ribeiro
Cancela existe há 25 anos e vem lutando com sacrifícios.
As poucas peças apresentadas por companhias nacionais
trouxeram a Caxias do Sul, Paulo Autran (1972), Procópio Ferreira (1971),
grupos responsáveis pelas peças “Lá” de Sergio Jockymann, “Um grito parado no
ar “, “Quando as máquinas param” e outras. Os cinemas Ópera e Real eram cedidos
para estas apresentações, em geral com escasso número de presentes. “ Um grito
parado no ar” foi uma das raras exceções lotou a casa. Fora isso, apenas shows
de cantores e comediantes diversificaram o parco cardápio dos caxienses que
agora voltarão a ver teatro.
A preocupação gira em torno de se os caxienses de fato
conseguirão, depois de 20 anos, ver e aplaudir peças modernas sem antes uma
fase de adaptação.
A mescla de peças modernas com números do teatro tradicional
será talvez a fórmula ideal. Assim quem quiser ver teatro moderno terá sua vez
e noutra apresentação poderá ser aplaudida uma peça antiga
ou tradicional.
“É uma fase de renovação na cultura caxiense, complementada
pelo lançamento de livros, poesias, artigos e contos” na opinião do professor
Jayme Paviani, escritor e Secretário de Planejamento da UCS. É a volta de
oportunidades de cultivo de cultura e arte, coisas há muitos anos ausentes da
vida dos caxienses.
(Correio do Povo – Interior- pág.15 – Domingo 4 de maio de
1975)
Vinha em temporada de sucesso iniciada em
janeiro de 62, quando Zé decidiu fechar o Studio BB - dedicado a bebês e
à Brigite Bardot - sair de Duque
de Caxias , onde morou desde 49, e de fotografia,que aprendera com Sebastião
Sabino da Silva , do Foto Tip Top e do jornal Luta Democrática , para conhecer o
Brasil. Recomendação de Barbosa Leite, do IBGE.
Participara do Teatro
Moderno Caxiense - TMC, divulgando a encenação de “Morre um gato na China “ do
Pedro Bloch, ensaiava ‘Auto da Compadecida’, resultado de longos papos com
Armando Melo, veterano de teatro e circo, que hoje é nome de teatro na cidade.
Com ele aprendeu a atuar.
Antes de mudar, foi até São Paulo em dezembro, com Antonio
e Carmem, parceiros do TMC , rever Julio, colega de ginásio, e Genival,
antigo vizinho, amigos que lá estavam há algum tempo, sondar possibilidade de trabalhar na
Alcântara Machado que promovia feiras no Ibirapuera e, visitar o Teatro Oficina, sobre o qual havia lido
matéria no Jornal do Brasil.
Na Alcântara , não tinha vaga. Na agência existia uma vaga
para contato que falasse alemão, o que não era o caso. Deixou o Oficina para a volta.Voltou ao
Rio, vendeu equipamentos e transferiu ponto.
Portando uma Flexaret 6x6 e pequena mala foi parar numa
pensão na Fernando de Albuquerque entre a Augusta e Consolação, onde Julio
havia morado quando veio para São Paulo trabalhar com turismo.Agora morava em
apartamento na Guaianases próximo
do de Genival. Genival Melo trabalhava
na Copacabana Discos e empresava artistas como Carlos Galhardo, Ciro Monteiro,
Silvio Caldas, Rinaldo Calheiros. Com ele
conheceu a TV Excelsior, Record e Tupi. Anos atrás o reviu empresando Nelson
Ned e Moacir Franco. Fez duas capas de discos – Sonora Matansera (Fernando
Abrunhosa de modelo) e Bienvenido Granda( com
uma das Hartmann, Margareth ou Elizabeth) ao tempo em que ele era divulgador da Mocambo Discos no Rio.
Enquanto servia na
Auditoria Militar da Aeronáutica, era
sócio do Forma Fotografia, no
sétimo andar do Centro Comercial Copacabana esquina Siqueira Campos, e
fotografava para a Socila de Maria Augusta, criadora da primeira agência
profissional de modelos, que
conhecera no Studio Rembrandt. O Rio o cansava. Sentira-se melhor na serra.
Iria para o planalto.
Promotor de Vendas em agência de turismo ou Divulgador
Cultural eram os títulos de anúncios que haviam sobrado depois de vinte dias de
busca, com um guia de ruas na mão e muita pergunta.
Optou por divulgador cultural da Editora Logos onde aprendeu
a vender livros com Isaias Strasinski, excelente contador de causos,
declamador, e que reacendeu o dizer poético , apresentado as poesias de Décio
Bittencourt, a quem conheceu e guardou
estima eterna.
Com suas poesias falaram em fábricas, escolas , escritórios.
Depois do carnaval saíram
de Kombi com Johil rumo ao Rio Grande do
Sul, representando a EPOL- Editorial Pontes Ltda. e vendendo Enciclopédia “A
Criança para Pais e Professores” da Fundo de Cultura, e a “Biblioteca do
Contador” do Prof. Erimá Carneiro. Uma pane no motor deixou-os em Lages, que
não estava no roteiro e estrearam com sucesso. Início das doses maciças de
vitaminas a a b d – afagos, aplausos, bravos, dinheiro que viriam na seqüência.
Johil deixou-os em Santa Maria e seguiu para a fronteira.
Fazíam até dez apresentações de cinqüenta minutos por dia,
para pequenos ou grandes grupos de professores do curso primário e alunos de
magistério e contabilidade. Eram extremamente gratificantes.
Em Santa Maria conheceram o poeta e médico Prado Veppo , e
incorporaram novas poesias no repertório.
“Eu quis fazer um dia um poema inteiro
que fosse bem
brasileiro
sem dizer verde e
amarelo
sem falar em céu de anil
sem lembrar que samba existe
e que batuque faz meiguice
na negra do candomblé.
Sem devoção a São Jorge
O santo dos nossos pobres.
Sem lembrar que na Bahia
tem gente que lava igreja
para o Senhor do Bonfim.
Um poema cheio de povo
sem marchas de carnaval
com emoções verdadeiras
sem lances de futebol
a mais fraterna bandeira
neste mundo dividido.
Eu quis fazer um poema inteiro
mas os versos não nasceram
na palma da minha mão.”
O caldo entornou na cidade, num sábado, quando telefonaram
para o hotel avisando para ler matéria publicada no jornal A Razão, na
coluna Acupuntura assinada por Karaxato, dizendo que as poesias que Isaías
apresentava como suas eram de Décio Bittencourt, surpreendendo até o José.
Leram na portaria do hotel, foram a banca, compraram um
exemplar, e foram para a casa do representante da editora na cidade,que era
estudante de direito, preparar uma resposta, que entregaram segunda-feira no
jornal.
Como a carta teve parte censurada, receberam convite para
entrevista na Radio Guarantã e descobriram o Karaxato e mandaram-no comprar uma
lata de neocid em pó como o melhor remédio para chato. E ele tinha razão. As
poesias eram de Décio. Isaias confessou.
Separaram-se. Depois de Cruz Alta, Isaias seguiu rumo às
Missões e José fez Julio de Castilhos,
Tupanciretã, Carazinho, Sarandi, Passo Fundo, onde encontrou Caioby Fayad, pai
das gêmeas e campeão de vendas em 61, com o recorde de 2400 coleções de “A Criança e Nós” e “A Criança , A Família
e A Escola” e Ciro Pontes, o “big boss”
da Epol, que depois de assistir o trabalho de José, ofereceu a região da serra,
que começasse por Caxias do Sul e se hospedasse no Hotel Real.
Fez Erexim, de onde embarcou numa viagem que durou 12 horas,
e quando o ônibus deixou a estrada escura e entrou naquela avenida iluminada, pensou: Estou
chegando numa cidade grande.
No Real conheceu Flávio Ioppi, dono do hotel, que dias
depois o convidou para um jantar do Rotary, no restaurante do hotel. Tinha
ouvido falar da atuação e gostaria que narrasse na reunião. Aceitou de bom grado e ao fim da sessão, Elí, que a
presidira, diz:- Vou te levar para
conhecer uma coisa que tenho a certeza
que você vai gostar. Subiram uma quadra, entraram num edifício e ainda na
escada do primeiro para o segundo andar, viram um velho gordo e barbudo
dizendo:
- Eu me chamo João de Deus.
- Deus, o Deus do catecismo ? pergunta o menino.
Eram Darwin Gazzana e
Rose Scoti, ensaiando o Cavalinho Azul de Maria Clara Machado, no Atelier de
Teatro da Aliança Francesa com direção de Nilton Scoti, música de Nestor
Campagnolo ao vivo e mais Any e Valdira Danckwart, Bassanesi, Davi e Eli
Andreazza, Renan Falcão de Azevedo um magnífico palhaço, Irmgard e Gerda, Zilia
Garcia,...
Encantou-se, assistiu ensaios, fotografou o geral, junto com Mauro de Blanco
e estréia.
Brilhante. Magnífico. Excelente. Bravos.
Foram parar no Teatro
São Pedro em Porto Alegre.
Na estréia reencontrou Prado Veppo, médico e poeta que
conhecera em Santa Maria, de quem
incluiu poesias no repertório e
Gerd Bornheim, o filósofo.
Fez Farroupilha, Garibaldi, Bento de onde teve que vir de
táxi a Caxias embarcar de volta a São Paulo em
julho de 62 quando se deu a complicação política do gabinete do então
sistema parlamentarista , arrancado a fórceps do Congresso, após renúncia de
Jânio. Não havia passagem . Foi sentado em cima de uma caixa de dúzia de
garrafas de vinho Largo do Boticário, mamando uma para chegar a tempo do
casamento do Lauro, colega de EPOL, dia sete.
Entre 62 e 72 envolveu-se a fundo na produção, edição e
comercialização de livros, publicações e periódicos, recrutamento, seleção e
treinamento de vendedores de livros. Foi vendedor da Livrobras, Li-bra -
Empresa Editorial, J.Quadros Editores Culturais, Formar.
Foi sócio das editoras: Concórdia, Marambaia,
Moderno Educador, Educador Contemporâneo e Teboré, em Rio de Janeiro,
São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre e atuou como supervisor de promoções
na divisão de educação da Abril em 71/72.
Conheceu o Brasil andando e conversando, mantendo contatos
com o teatro feito nestas cidades e em Caxias do Sul , onde cultivou amizades
desde então.No início de 75, revendo amigos recebeu convite, para participar da difusão de ”controle de
qualidade no laboratório de análises clínicas” e de “perfil bioquímico
preventivo” ( CHECAP CAAC )da Central de Automação em Análises Clínicas,
ficou e descobríu que o Recreio da Juventude ia fazer teatro.
Foi lá e falou com
Flávio Ioppi que o presidia, marcaram reunião com os sócios encarregados
do departamento cultural do clube , quando ofereceu de graça, um Curso de
Iniciação ao Teatro –40 horas -interpretação, direção, produção - semelhante ao
que fizera no ano anterior no Tablado através de improvisações teatrais,
individuais e coletivas, muito palco,
pouco papo, muita leitura e
representação, desde que fosse aberto para não sócios.
Como se formaram duas turmas , o presidente ofereceu as
refeições no restaurante do clube.
Mais de 500
horas de improvisações e ensaios
enquanto o teatro era construído. Consulta a Censura que exige 90 dias para
liberação do texto, que não estava pronto, e um ensaio geral exclusivo para o
Censor, determinar cortes ou não. O teatro que deveria ficar pronto em maio
passou para junho, Sugeriu estrear a peça sem fala e Flávio achou que
isso poderia ser tomado como ofensa. Pediu outra peça e lembrou-se de ter assistido
“ A Gramática” no Tablado e que talvez
estivesse liberada. Assim morreu o ‘Ônibus das Seis’ e formou-se o elenco com Sérgio Chaves,
Jussara Ramos,Valdir Galafassi, Vanda
Stecanella, Fabiano,
Os figurinos e o teatro só foram usados pelo grupo no ensaio
geral na véspera da estréia. Não assistiu a estréia, nem as apresentações, pois
tinha compromisso terça- feira no Rio de Janeiro, e não tinha dinheiro para ir de avião - clube
não quis pagar - e por lá ficou quase um mês, quando decidiu trazer parte da
família. Temporada encerrada e cena congelada.E novas amizades e conhecimentos.
Passeio Público, Lapa, Rio de Janeiro, 1957. Amanhecer .
-Quero cagar e não posso, a merda não sai, a merda está
presa, vivem me clareando: o Cruz da brama Riachuelo deixa todos os motores
ligados, e todas as luzes acesas para não me deixar cagar. O Silva da antártica
da Gomes Freire, liga todos os motores elétricos, e todas as luzes do pátio
acesas, para não me deixar cagar. Aquelas alemãs lá do café indígena, botam
eletricidade junto com o açúcar no meu café, para não me deixar cagar; aqueles alemães
do porto santo Antonio jogam baralho a
noite inteira com todas as luzes acesas para não me deixar cagar. Quero cagar e
não posso, a merda não sai, a merda está presa, vivem me clareando, e até a
pele do saco já está se soltando.
Terminado o discurso, pegou o saco de pano que tinha deixado
no chão , colocou no ombro e se foi. No tempo que trabalhou e morou no Stúdio Rembrandt, Marrecas esquina
Passeio, primeiro andar , deve ter ouvido umas dez vezes. A plenos pulmões na
praça. Havia também o garoto de tocava música em garrafas com água colorida. Travestis, meretrizes,
cafetões, contrabandistas, gente de toda
cor e todo jeito ali circulam. Certa vez foi salvo pela visita do general
Craveiro Lopes de Portugal que visitava
o Rio e, quando a polícia passou , o
cafetão que pedia explicações por ter fotografado de graça uma de suas
meretrizes, fugiu.
-A Lapa está voltando a ser a Lapa a Lapa confirmando a
tradição a Lapa é o ponto maior do mapa do Distrito Federal Salve a Lapa o
bairro das quatro letras até um rei conheceu onde tanto malandro viveu onde
tanto valente morreu enquanto a cidade dorme a lapa fica acordada acalentando
quem vive de madrugada, cantava Herivelto no carnaval de 50.
- O trio de ouro: Dalva , Nilo, Herivelto.
- Sasso , francês, fotógrafo, marido de Lorna, inglesa,
primeira bailarina do Teatro Municipal; Noel Pinheiro Magalhães, paraense,
fotógrafo, laboratorista, mestre, doutor. Levado por Fernando Abrunhosa
foi acolhido e conheceu equipamentos de
ponta e
alguns cobras da fotografia como
Luiz Carlos Barreto , Oto Stupakof, René Rouf, Sacha Gordine, diretor de Orfeu
do Carnaval, Marpessa Dawn e Breno Melo
que contracenaram no filme. Ali também
ocorreram as primeiras conversas entre publicitários e fotógrafos , para
organização profissional de modelos, que materializou-se com a criação da
Socila.
Saiu no início de 58 para fazer serviço militar na
Aeronáutica por dois anos: Base Aérea de Santa Cruz, (capitão Matos e Tenente Jessé, cabo Amaral e sargento Souza). Depósito Central de
Intendência(Tenente Araguarino) em Marechal Hermes e na 2ª Auditoria Militar, no Castelo,este
último conseguido por Vambach, pintor
belga que atuava a muitos anos no Brasil e o recomendou ao Juiz Auditor Orlando
Moutinho Ribeiro da Costa.
Estafeta militar: S2
QIG FI 58 0804 239 dá baixa .
‘ Todo alistável é elegível’ era lema da UNE/UME.
Saíra para o mundo em
55 com 17 anos. Fora balconista de ferragens e ferramentas quinze dias no Ao
Regador; diagramador, calculista, cortador de papel e papelão operando facão e
guilhotina durante quatro meses na Cartonagem Imperial em Petrópolis.
Ganhava meio salário mínimo, pagava condução, alimentação,
hospedagem e ainda sobrava para ir nadar duas vezes por semana na piscina
térmica do Hotel Quitandinha com direito a ducha no final.
Não era suficiente. Deixou a Serra e voltou para o Irajá na
casa do tio Rubens, irmão mais velho da mãe e o único de Da. Amélia e do seu
Jacinto , louro e de olho azul. Os outros puxaram mais pela mãe, que era
Vargas, da qual os filhos não tiveram o sobrenome. Mais tarde soube que o
sobrenome surgiu originariamente entre ciganos de Andaluzia.. O tio se virava
como dava. Vendia flores em Finados, brinquedos no Natal, ambulante, feirante,
peixe, pintos. Vendo que o sobrinho fazia duas semanas que procurava emprego,
não tinha carteira profissional, e não encontrava, arriscou: A coisa ta
difícil. Você é uma pessoa estudada, tem ginásio, não sei se você quer, mas
amanhã vou sair para vender peixe. Vamos no mercado da praça quinze. A gente sai
daqui as quatro.
- Xalerete, corvina, sardinha é aqui leva, gritavam nas
bancas. Foram num boteco e comeram pão, sardinha frita e guaraná, pegaram
quinze quilos e foram gritar pelas ruas
do conjunto residencial do IAPC do
Irajá: sardinha , xalerete, corvina fresquinha. Aqui e ali repetia-se o descer
da cabeça dois cestos de vime – base e tampa -
uns oitenta centímetros de diâmetro, forrados com um emborrachado, gelo
por baixo e por cima dos peixes, destapar, escolher, pesar, receber, tapar,
erguer, equilibrar na cabeça, vender tudo até às onze, e o que sobrar, tá na
mesa do almoço. Feito o balanço, o tio
perguntou: O que achou ?
- É interessante, trabalhoso e só dá para trabalhar até o
meio dia.
- Que tal tentarmos amanhã com pintos de um dia ?
Vamos no Vasco em
Magno, perto de Madureira, Saindo de lá as sete horas está muito bom.
Dia seguinte seis da manhã tomaram o bonde, foram ao
depósito onde milhares de pintos piavam, carregou cento e sessenta em quatro
caixas, fez um amarrado e disse: Esse é teu.
E fez um igual para ele e foram para a rua.
- Vamos fazer juntos umas
três ou quatro vendas, depois a gente se separa e cada um faz uma rua
paralela e nos encontramos em cada esquina. Vamos lá.
Olha o pinto de raça olha a raça olha pinto de raça olha a
raça olha o pinto de raça olha a raça.
Os brancos são legorni, e os vermelhos rodes e niu
rampxaire.
Legorn, poedeiras;
Rhodes, para peso e New Hampshire, cruza das duas, eram poedeiras e boas de peso, eram pintos de
granja que começavam a surgir com raças importadas. Moradores em casas no
subúrbio criavam pequenos animais e era comum
ter galinhas com pintinhos novos , aos quais se juntavam os de raça. Às
vezes era só para brinquedo de criança.
Quatro ou cinco quadras
depois desencontraram-se e seguiu em frente.Quatro da tarde estava
próximo do conjunto residencial da Casa Popular em Deodoro e fez balanço.
Tinha ganho até ali o mesmo que doze dias na cartonagem.
Colocou as caixas na cabeça e saiu
gritando : Olha o pinto de raça olha a raça pinto de raça olha a raça pinto de
raça pinto de raça ... ganhou o equivalente a mais três dias, e assim passou
quatro meses da safra, fazendo ambulante e feiras, até que um encontro casual, ou arranjado pelo
tio, no centro de Duque de Caxias, o
colocou frente ao padrasto que o convidou para voltar para casa. Aceitou e foi
buscar roupas na casa do tio. Mas, a permanência seria breve.
Numa volta pela
cidade reencontra Josias, colega de
ginásio no Duque de Caxias, que
trabalhava com o jornalista alagoano Manoel Valadão, editor do 1º
guia de ruas da cidade, o DELTA , e que
preparava lançamento do jornal Gazeta Fluminense. Convida para ser cobrador e
agenciador de anúncios. Aceita no ato e vai cobrar do Sabino
a quem vendera uma fotocopiadora, que já tinha sido revendida, apesar da
reserva de domínio.
- Estou sem dinheiro. Volta
daqui há uma semana, me diz, naquele sotaque nordestino, tão comum na
cidade, fruto das levas de paus-de-arara,que para lá afluíram, fugindo da seca,
da enchente, da solidão... ou pedindo proteção de Tenório Cavalcante, o homem
da capa preta, dono da Luta Democrática, para quem Sabino fotografava com a sua
Speed Graphic 4x5”, flash lâmpada bulbo, filme plano, também usada no estúdio, com refletores e
lâmpadas fotoflood.
Cara bexigosa, barba por fazer, repetiu o “estou sem
dinheiro” nas três vezes que lá esteve. Na quarta disse: Sabino, vejo que você está em grandes dificuldades.
Eu quero aprender fotografia e esse trabalho de cobrador não
me satisfaz. Se você aceitar, venho trabalhar contigo, desde que eu possa
dormir no estúdio.
-Não tem problema. Eu também moro aqui. Tiro a cortina do
fundo e cubro o chão para dormir. Banheiro
e chuveiro tem lá no fundo do corredor. E o da comida sempre se salva.
- Vou ao escritório
devolver esses documentos e em casa pegar minhas coisas e volto hoje.
Assim fez e mudou-se para
o Foto Tip Top.
Iniciado pelo Sebastião Sabino da Silva em fotografar
reportagem e estúdio, revelar, retocar, copiar, ampliar, preparar reveladores,
banho interruptor e fixador , tudo para filme
em preto e branco. Conhecer
diafragma, velocidade, distância,
sensibilidade de filmes, e outros fotógrafos . Fotografia colorida era cara e
rara.
Ali ficou cinco meses
quando chegou Péricles ,o careca, que tinha trabalhado durante muitos anos no
estúdio do Bráulio, na Praça Tiradentes,
que associou-se ao Sabino e me arranjou para trabalhar e morar no estúdio do
grego Omanolis na Cinelândia. Ali ficou três meses até ser
levado por Fernando Abrunhosa ao Studio
Rembrandt , do Richard Sasso, conhecer Noel Pinheiro Magalhães que o convidou
para ocupar lugar de Fernando que ia
para São Paulo. Acertou as contas e mudou-se. Aprimorou os conhecimentos em equipamentos e técnicas,
e quando sobrava tempo ia na Biblioteca
Nacional. Esperava Noel chegar pela manhã para o café numa leiteria na Visconde
de Maranguape, embaixo da sede dos
Tenentes do Diabo, onde sempre estalava a língua e pedia uma coalhada. Almoçava
ou jantava no Meu Cantinho ou na Spaghetilandia. Às vezes íam ao Congo, comer
um “filé alto abafado ao alho” ou à Casa do Pará, comer um típico. Noel tinha
gosto refinado. Tivera restaurante e estúdio em Belém e de lá saíra pouco
depois do fim da guerra em 46. Mestre no laboratório e no comércio de
equipamentos.
Fui com Sasso fotografar o ensaio geral de ‘O
tempo e os Conways’ de J.B. Priestley n’O Tablado. Encantou-se . E também na primeira foto feita no Brasil, para a Coca
Cola.
Antes de dar baixa da Aeronáutica passara duas noites
insones a procura de resposta, pois tinha dúvidas se continuaria em fotografia,
quando veio a de que deveria dedicar-se a vendas, publicidade, promoção de
vendas, relações humanas e públicas.
Por sugestão do Mira , professor de história no ginásio leu
“Pequeno Tratado de Relações Humanas” de Fernanda Augusta Vieira Barcelos.
Associou-se a Manoel Valadão na Odin Publicidade e foi
estudar publicidade e promoção de vendas no IPET – Instituto Promovendas de
Ensino Técnico.
Desmanchou sociedade depois da quarta edição do Odin
Notícias, abriu e fechou Foto BB e foi vender luminosos e expositores
da indústria Paskin entre 60 e 61 , quando saiu Rio para descobrir o Brasil.
Quando você me deixou meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem e que voltaríamos
a nos encontrar no século XIX e se perguntassem por ti eu dissesse ‘que morreu
mas vai bem’ e quando te pedi o Clã do Jabuti, edição 1927, dedicado e
autografado por Mário de Andrade a teu pai, dissestes que ele não deveria sair
dali e te prometi devolver tal como fizera com a Bíblia que me emprestastes para que lesse o
Evangelho de Lucas que tinha aparecido em meu sonho pedindo ser lido. Tudo em
função da pesquisa antitóxicos, do audiovisual para a divisão de educação, e
espetáculo para o sesquicentenário da independência.
Tínhamos passado o carnaval na Praia Grande e voltamos na
segunda para evitar o congestionamento da terça. Deixei-te com as crianças na
tua casa em Pinheiros e fui para a Lapa onde dividia apartamento com Mario,
Alexandre, Barros, e Tom Luca que tinham viajado e deixado bilhetes elogiando
meus desenhos em óleo pastel sobre cartão. Fechei um baseado e fui ler no Clã,
Carnaval Carioca e Noturno de Belo
Horizonte. Depois fui buscar o gravador no estúdio onde faria o audiovisual ,
ensaiei e dormi.
Na sexta-feira Cavalo faria o Sukiaki e Tigre viajaria para o Rio, como fazia nos
fins de semana.
Curso de Iniciação ao Teatro- 40
horas
Produção, Direção, Interpretação.
Segunda a Sexta das
17 às 19 horas
A educação, de
acordo com os conceitos mais modernos, se interessa especificamente pelo
desenvolvimento físico, intelectual, emocional e ético dos jovens, A atividade
teatral, bem utilizada na educação, em que se procura em primeiro lugar, a criatividade e o auto-conhecimento, pode ser elemento fundamental para o
desenvolvimento do jovem através de uma nova utilização de seu corpo, de sua maneira de falar e de controlar as
emoções, encorajando-o assim a melhor se expressar e se comunicar.
A lista de
vantagens que podem ser obtidas através da atividade teatral na educação pode
ser bem vasta. Citemos algumas delas:
- desenvolvimento da imaginação
- aumento da capacidade de concentração
- aumento da capacidade de comunicação
- ajustamento da personalidade
- melhora do uso da linguagem oral
- desenvolvimento da capacidade de trabalho em grupo, pela
aceitação de responsabilidade e pela
necessidade de cooperação com os
outros
- possibilidade de interessar os jovens na literatura
- desenvolvimento de uma apreciação estética, etc..
Deve-se observar que, evidentemente, essa atividade não visa
tornar cada estudante num ator amador, nem a induzi-lo a escolher o teatro como
profissão.”
1 - Introdução. Finalidade. Jogos dramáticos. Qualidades do
animador.Bibliografia. Temas: Chegada. Paredão.Engrenagem.
2 - Interpretação.
Controle. Imaginação. Sensibilidade.Temas: Passarinho ferido. Algas.
Nascimento. Telegrama com sons tristes e alegres.
3 – Uso de
instrumentos de percussão.
Temas: Ritmo com tambor.
4 – Temas: O
enforcado. Água na prisão com tambor. Descoberta do corpo – mãos (ódio-amor). O
incêndio.
5 – Situações
dramáticas. Temas: Os fugitivos na floresta com ritmo. Crime no fundo do mar.
6 – Situações
dramáticas. Temas: o bombardeio. Os cegos. O grito( no escuro) com tororó.
7 – Temas: notícia no
rádio. Prova na TV.
8 – Situações
cômicas. Temas: Os relógios. As pulgas.
9 – Situações
cômicas. Temas: O chofer maluco. A árvore e o aluno. A planta milagrosa.
10 – Tragédia. Temas: Festa e a morte. O louco.
11 – Leituras dramatizada. Estudo de inflexões. Frases.
12 – O palco. Noções de urdimento. Improvisações com
palavras.
13 – O cenário. Palavras e elementos cênicos.
14 - Iluminação.
Refletores improvisados. Palavras.
15 – Figurinos. Pesquisa em bibliotecas. Palavras.
16 – Poema dramatizado. Caracterização. Maquiagem.
17 – Contra regra. Sonoplastia. Palavras e sonoplastia.
18 – O espetáculo( publicidade, programas, cartazes,
contacto com o público, problemas éticos, teatro infantil, repertório.
19 – SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Tema
livre.
20 – Engrenagem. Temas livres. Encerramento.
- Tornei-me aprendiz
de mecânica espacial, pensei, nas 40 horas de janeiro de 74 no Tablado .
AME. GAME, GUEIME, JOGO.
GRUPO APRENDIZES MECÂNICA ESPACIAL.
- Nossos exercícios estão no livro ‘100 Jogos dramáticos’ de minha autoria e
de Marta Rossmann, e textos teatrais, e todos os assuntos sobre teatro estão na
biblioteca e nos Cadernos de Teatro onde podem ser adquiridos números antigos,
que nunca perdem a atualidade, disse Maria Clara Machado, na primeira aula.
Poupem-me de falar do que está escrito. Leiam. Vão ao Teatro. Quem quer ser
ator ou atriz tem que assumir que é exibicionista, gosta de se exibir, e
fará todo o possível para exibir-se cada vez melhor. E para mostrar que estão com muita fome de
fazer teatro, mostrem essa fome subindo
para o palco.
Nele estava e fiquei
tendo aulas de improvisação com Clara. O exercício de semestre – Édipo Rei, foi
dirigido pelo Damião. Expressão Corporal
com Susana Braga, durante todo o ano , uma vez por semana às cinco da tarde.
Produzimos NOVES FORA.
À noite, como
ouvinte, fazia Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Ambas atividades me foram sugeridas por Antonio Pacot na
minha volta ao Rio, saindo da depressão profunda. Para o fim de ano programei
vinda a Porto Alegre, Caxias do Sul e Vacaria e para o ano seguinte seguiria no
Tablado. Tinha um buxinxo no bulixo e fui ficando.
Amaram-se como faziam desce o reveillon.
Estávamos no ano do Rato, que recomenda economizar para os próximos anos. É um
ano favorável às conservas, às geléias, às compras, aos empréstimos e aos
investimentos.Embora aparente ser bom do ponto de vista financeiro, ele esconde
a possibilidade de miséria nos anos seguintes. Politicamente...surpresas.
Acusações. Condenações...Ano
favorável à literatura. Se seus filhos nascerem no ano do rato, mais felizes
serão se tiverem nascido no verão.Para o Cavalo estava reservado um péssimo
ano.O Rato fará tudo para prejudicá-lo. Prudência no amor como nos negócios...
Para o Tigre não há outra coisa a fazer
senão prevenir-se..O ano será para ele
desfavorável. Não lhe trará nada. E para as Serpentes o ano seria agitado sem
ser desfavorável. São bem prudentes. Entre Tigre e Serpente a amizade é
possível e eles terão longos e apaixonantes bate-papos...
Os negócios não darão certo
pois jamais conseguirão chegar a um acordo.
Evitar casamento.
Incompreensão total e sem esperança. Sensatez e entusiasmo raramente dão certo.
O filho Serpente fará enormes esforços. Incompreensão total. Filha Dragão
será bem favorável para o desenvolvimento. A filha Galo agradará muito pouco ao
Tigre...mas o tigre agradará ao Galo!
Já com o Cavalo
prometem”excelentes relações mundanas...”
E, talvez, amizade sólida.
Há possibilidades nos negócios. Será complicado mas favorável. No amor,
casamento homem Tigre, mulher Cavalo será bom. A mulher Cavalo poderá
satisfazer seu excesso de paixão e se manterá independente.Na harmonia entre
pai Gato não será tão mal. Um pouco de humor, ferindo o Tigre, no seu orgulho,
o ajudará. E com a mãe Cavalo um grande sim... O Cavalo deixará seu Tigre
independente e o amará muito. Combinando o Tigre com o Leão, pelo fato de haver
um tigre no seu motor, não se pode toma-lo por um leão...
E ainda havia o Galo velho, que será
sistematicamente contestado pelo enteado Tigre.
Invasão e bombardeio norte-americano no Vietnam.
Ditadura Médici no Brasil. - Vou trabalhar na Abril.
Lançamento coleção livros
didáticos ultrapassou o previsto. Jamais
houve na empresa retorno tão alto de mala direta - mesmo sem resposta paga
– em pedidos de manual de professor e livro de aluno, quanto o do proporcionado
pelo envio do número zero da revista ESCOLA,
(outubro 71) com o catálogo dos
livros didáticos e da nova coleção, para 100.000 escolas urbanas do Brasil,
graças às “sugestões para um programa de promoções da divisão de
educação”
contidas na Comunicação
Interna de 6/7/71/DE-307
PARA -
José Alcione Pereira
DE -
José Oliveira Luiz
c.c. -
E. Franco/G. Fernandes/E.
Moura / U.Cava / Beatriz/Sílvio
p.c. Calazans Fernandes
Visando o desenvolvimento na
área de promoções do programa traçado no documento “Política de
Comercialização”, apresentamos para apreciação, sugestões e providências, o
estágio atual e sugestões para execução futura.
1.- Organização do cadastro
2.- Calendários
3.- Bibliotecas
Circulantes/Estantes de Isopor
4.- Cursos Intensivos e
Seminários de Estudos
Delegados de Ensino do
Estado de São Paulo
SEROP/SP
Desenvolveu as idéias e conclui:
Dada a extensão, operosidade
e curto prazo para a execução dos planos sugeridos (de maneira satisfatória a
nível Abril) necessário se torna que tenhamos no menor espaço de tempo
possível, uma secretária ou datilógrafa e máquina de escrever. O êxito da
“Política de Comercialização” está condicionado à execução dos planos
sugeridos.
Cordialmente
José Oliveira Luiz
sup. de promoções.
PS:A qualidade do
datilografado dá a medida da necessidade de máquina e datilógrafa, além de reduzir sensivelmente os
custos operacionais da DE.
- Faça sempre CI e manda pra
quem achar que deve mandar, disse-me Beatriz Krasnianski, do setor de Projetos
Especiais.
Com o tempo percebeu que
havia um clima desagradável , com o diretor
da Divisão de Educação da Abril S.A Cultural e Industrial( que tinha sido
secretário geral do Ministério da Educação, tempo de Tarso Dutra/Costa e Silva
e era afilhado do Jarbas Passarinho),
que conhecí durante seminário da COLTED(comissão do livro técnico e do
livro didático do MEC) e com quem pedi para falar , quando decidi lá trabalhar, depois de dezessete anos de
autônomo, sócio, gerente, dono de editora. E bem relacionado no meio.
- Tem sempre que ser sócio,
gerente, dono ?
Vai trabalhar empregado,
disse o Caldas.
- Diagramar, calcular,
vincar, cortar papel e papelão em facão e guilhotina; cobrar, fotografar, vender , editar, publicar, livros,
publicações e periódicos, e encerrar empresas em São Paulo, Rio de Janeiro,Belo
Horizonte e Porto Alegre. Parar de viajar.
- Vou te levar para falar
com o José Alcione, nosso gerente comercial, disse, levantando-se e caminhando
para a porta, após menos de dois minutos de conversa, Fomos até a salinha onde
estava Rosa, a secretária, que disse que ele estava com o José Medeiros, e
fomos entrando pela porta aberta:
Conversa com o José por que eu acho que é o que procuras e precisamos.
- Bom dia, sou José Alcione
Pereira e este é o José Medeiros.
- O fotógrafo José Medeiros
?
- Ele mesmo.
- Bom dia. Eu sou José de
Oliveira Luiz.
- Sente-se.
- Obrigado.
- Estou desde 55 na área
gráfico editorial, conheço todo o Brasil. Direto na área do livro pra
professores e alunas de magistério desde 62. Estou fechando e saindo de
sociedade em editoras e distribuidoras de livros em São Paulo, Minas e Porto
Alegre.
Meu último lançamento foi o
Atlas Geográfico Contemporâneo,
consolidação cartográfica do Rio Grande do Sul em 12 mapas e fichas de
texto para professores e alunos de 3ª série, quando se estuda o Estado. Conheço
a situação da Abril no mercado e sei o que fazer para aumentar e melhorar essa
posição.
- Tem uma vaga para projetos
especiais, para viajar contatando grandes empresas e órgão governamentais,
e outra possibilidade de
dividir a função de supervisor de publicidade e promoções, ficando o Ulisses
Cava com publicidade e você com promoções.
- Estou viajando há
dezessete anos. Quero ficar um pouco em São
Paulo com a família. E na função de supervisor tem um percentual sobre
as vendas ?
-Não. Só de gerente pra cima.
E o teto da função, é de três mil cruzeiros . Se aceita está contratado independente do psicotécnico
e de currículo.
- Tá bom. Aceito. Quando
começo ?
- Hoje é dia 12. Documentos,
testes, papeladas levam alguns dias. Que tal começar em primeiro de junho ?
- Boa idéia. Estou mesmo
precisando trabalhar de empregado e escolhí a maior empresa gráfica e editorial
. Se você não se importar, gostaria de vir uns dias antes para ir tomando
conhecimento da empresa.
- Boa idéia. Vamos falar com
o Joaquim que é gerente administrativo.
Despedi-me dizendo: Santos Dumont foi um bamba; Getúlio foi um batuta mas a dupla jota
jota eta dupla filha da puta.
Era um escrito de banheiro
do aeroporto Santos Dumont, dos idos de Juscelino e Jango.
José Medeiros, José Alcione
Pereira e José de Oliveira Luiz. Saúde.
- Joaquim o Zé vai trabalhar
com a gente. Vamos dividir a supervisão
de publicidade e promoções em duas .
Zé fica com promoções e Ulisses com publicidade.
-
Prazer. Seja
benvindo. Vamos sentar.
-
Obrigado.
-
Olha. Você precisa trazer a carteira profissional,
certificado de reservista, título de eleitor, CPF, identidade, três
fotografias, e vai no recursos humanos que eles vão marcar exames médico e
psicotécnico.
-
OK. Vou buscar os documentos e volto ainda hoje. Até logo.
-
Até logo
Saí dali no fusca
vermelho que tinha estacionado na Marginal e fui para casa almoçarmos. Ficaste
muito feliz. Afinal, após oito anos de casamento, iria parar em casa. Onde não
passou três. Era viajante.Não ia mais viajar. Iria parar em São Paulo. Assim
imaginavas.
‘Viajante viajado do
tempo passado no tempo presente, pressente.
Remotos sensores afinam instrumentos...’ escrevera para a Rosa de São
Luiz.
A carteira profissional
havia sido mês antes. A fotografia marca 26/4/71. Atravessei o psicotécnico, o
exame médico e fui finalizar com psicóloga que me perguntou se não encontraria
dificuldades em me adaptar, após tantos anos de autonomia, e que pelo
psicotécnico, eu estava acima do nível da função.
- Só se for por trabalhar
menos do que estou acostumado. Sempre assumi tudo ao longo dos anos e agora vou
cuidar só de parte.
Saí dali e voltei ao
gerente que me apresentou o time: Gileno, Ulisses, Beatriz, Silvio, Vânia,
Célia, Edmilson, Alfeu.
Ulisses passou-me o que
havia de promoções e indicou-me outros nomes em outras áreas da empresa com
quem poderia me articular.
- Tudo o que for
apalavrado bota em CI – Comunicação Interna a todas as pessoas envolvidas.
- Não deixa de mandar
para o Calazans, coordenador de projetos especiais e dos escritórios regionais.
E se achar necessário manda para o Roberto ou seu Victor, acrescentou a
Beatriz.
Não sei quantas fiz nos
quinze meses que lá passei.
- Tudo bem pessoal. Sei
que vamos nos dar muito bem e tirar o atraso. Até amanhã.
Toda atividade humana tem
seus gestos, falas, alfabeto, glossário, unidade temática, universo vocabular,
nomes, rostos e contraditório. Conflito, dizem outros. Teatro GAME – Grupo
Aprendizes Mecânica Espacial, arte da simulação, simula ação. Radicaliza,
situa, personifica. Equaciona movimento, espaço, tempo. Age. A paixão move o
ator, e o desejo, o ser humano.
Ator ou atriz atuam.
Atuador. O corpo é instrumento do ator. Produtor e agente do ato. Inteiro
gesto: respiração, dicção, voz, imaginação, sensibilidade, improvisação.
Instruir-se é conquista
pessoal
de aprendiz, amador ou profissional.
Do saber nasce a
confiança.
Com ele não há medo;
sem ela não há esperança.
Mais vale experiência
frustrada,
que frustração não experimentada.
Se amador: maior rigor.
Se escolar : não visar espetáculo, nem transformar aluno em amador,
profissional ou esporte de competição, mas apropriar arte ou linguagem
específica – leitura, interpretação, representação – que é patrimônio cultural
humano consolidado há mais de 2500 anos.
-
Triste, alegre, ou nem alegre nem triste? ? tragédia,
drama ou comédia? Trágico, lírico ou operístico ?
-
Musical e dançante. Tragicômico lírico !
Lê, relê, interpreta,
ensaia, erra, acerta, desacerta, ensaia, ensaia... encena. Encenação.
Ensaio, erro, acerto.
Essência de ciência. Ato em cena. Atuar:
- o ato reintroduz no
cotidiano, linguagem poética e pratica teatral, reatando percepção crítica e
criativa da realidade.
- O Atelier de Teatro
da Aliança Francesa surgiu em 58 por
iniciativa de Nilton Carlos Scotti, que atuava no Teatro do Estudante, em Porto
Alegre, e quando voltou a Caxias, convidou alguns amigos para fazer teatro(
além de Scotti, ninguém mais tinha experiência ou conhecimento do assunto).
De acordo com David
Andreazza, um dos ex-
integrantes do Atelier,
os primeiros espetáculos eram financiados pelos próprios atores. Eles compravam
ingressos e distribuíam aos amigos e parentes. Era preciso convencer as pessoas
a ir ao teatro.
Nos dois últimos
anos de existência do grupo, já não era
preciso fazer isso, ao contrário.
Surgiam convites para apresentarem-se em Porto Alegre, Punta Del Leste e
Brasília. Em dezembro de 1962 , a peça ‘O Cavalinho Azul’ de Maria Clara
Machado, foi apontada pelo jornal Correio do Povo como um dos melhores
espetáculos do ano.
Esse grupo, tão marcante
para a história do teatro caxiense , teve sintoma de fim em 63, quando chegavam
em um estágio em que seria necessário profissionalismo e não receberam
incentivo. O prédio onde ensaiavam e apresentavam e se apresentavam(72 lugares
sentados) foi requisitado. Sem terem onde ensaiar, com cada um assumindo
compromissos profissionais e em grande parte por influência do golpe militar de
64, ( a prisão de Darwin Gazzana) separaram-se.
Seguiu-se então um
período de obscurantismo total no que tange à cultura em nossa cidade. Castrada pela ditadura, a imaginação
pareceu encolher e por longos anos não se fez nenhum teatro.
Preenchendo esse vazio,
surge o grupo de teatro do Recreio da Juventude em 1975. Naquele ano o clube
promoveu um curso de iniciação ao teatro com um diretor carioca, do qual
participaram cerca de 80 pessoas. No final do curso, formaram-se vários grupos
que apresentaram trabalhos de conclusão, e um deles se estruturou melhor, e
encenou na estréia, ‘A Gramática’ de Eugene Labiche.
Depois da estréia , Luiza Helena Darsie, que
pertencia ao departamento jovem do clube, foi cedida pela prefeitura, (que
também tinha dado duzentos mil cruzeiros para a construção do teatro) para
dirigir o teatro. Ela dirigiu ‘ O começo é sempre fácil...o difícil vem depois’
de Nilton de Moraes Enery e ‘Boneca Tereza ou canção de amor e morte de Gelsi e
Valdinete’ de Carlos Carvalho., que assistiu a peça e disse’ ter visto a
montagem que idealizava para ela.’
O Teatro fechou em 77
porque a prioridade da nova diretoria passou a ser esporte de competição.
- Era um inferno ensaiar
naquele lugar. Mezzanino do antigo Cine Central, não tinha isolamento acústico
para deter o barulho dos jogos de basquete, vôlei ou judô, na quadra construída
no térreo. Quando precisava fazer apresentação tinha que se entender com muita
antecedência com o ‘esporte’, além da censura.
- Muito bonito porém
inútil, diria Gabriel, (o corvo)
parceiro de Dijalma, colega de EPOL.
-
Já que tinha dado minha contribuição ao teatro, e eles
conseguiram outra pessoa, fui dar seqüência ao ressurgimento do teatro,
difundindo coleções de Cadernos de Teatro, publicação d’O Tablado, nas
escolas, disponibilizadas por Maria
Clara Machado, quando lhe fiz o relato da atuação e mostrei os recortes de jornais do início.
-
Zé você fez ressurgir o teatro em Caxias, exclamou
alegremente Suzana Braga, bailarina que dava Expressão Corporal, e com quem
atuei no ‘Noves Fora’, trabalho de ano.
Dei novo curso no Museu
Municipal.
- Que poesias você dizia
?
-
Sinfonia da Solidão
Nas águas paradas, hialinas;
cativa,
A larva de pernilongo é uma
vírgula viva!
A lagoa
tem um tremer de seios
Nos seus balanceios!
Tenho raiva de pernilongo.
“-Soziiinho ? “
Interrogação do violino da
solidão.
“- Soziiinho ?”
Foi sozinho ou benzinho que
você disse ?
Só pode ser sozinho.
Ave de arribação, ave sem
ninho
Desce aqui... desce ali...
“-Soziiinho ? “
Sozinho, sim...
Sinto bater à porta.
Seria a esperança ?
Não. A esperança é morta.
Mesmo assim escancaro a
entrada.
Não é nada.
Um pernilongo estoura em meu
ouvindo, tinindo:
“-Soziiinho? ”
Faço dueto com o pernilongo
especulador:
- Sozinho , meu amor...
Tenho a impressão que se
você chegasse,
eu talvez nunca mais
escutasse,
neste quarto solitário e sem
carinho,
esta amolação:
“- Soziiinho? “ “-Soziiinho?
” “- Soziiinho? ”
O FILHO
ADOTIVO
É tão
bonito o meu cão
Paina,
floco de algodão!
Branco, mas tão branco!
A paz dos homens de boa
vontade deve ser assim!
Tem um
rabinho alegre, de abanar!
Quando chega perto de mim
tem ganidos de prazer,
tem carinho no olhar
contente!
O meu cãozinho até parece
gente!
Adivinha, com aquela carinha
de meia lua,
a minha saudade que é tua!
Mas,
outro dia eu vi um menino
com cara de cachorrinho sem
dono!
Vagava pelas ruas, não de
lata em lata,
mas de bolso em bolso, de
porta em porta:
- Me dá um dinheiro ? – Me
dá um dinheiro ?
- Me dá um dinheiro ? – Me
dá um dinheiro ?
Era um menino vira-lata
brasileiro!
A
roupinha velha!
A camisinha suja !
O sapato roto
O ensebado gorro...
Garoto de vida bem pior que
vida de cachorro !
Era uma vez o menino
vira-lata brasileiro.
Hoje, ele é meu filho
e nunca mais pedirá de porta
em porta:
- Me dá um dinheiro? Me dá
um dinheiro
Tão bonito é o menino
que até parece Jesus.
É um doce beijo de luz!
Estrela de noite escura!
Branco, mas tão branco!
A paz dos homens de boa
vontade deve ser assim.
Tem um sorriso alegre e tão
contente.
Os seus olhos são iguais aos
teus.
Se o meu cãozinho até parece
gente,
o meu menino até parece Deus
!
MEU
FILHO
Oh!
deita no meu peito!
A noite é curta para os meus
sonhos
de amor e de abandono.
Sonhei fazer-te dos meus
braços o leito.
Sonhei fazer deste teu corpo
nu
o porto, temporário
ancoradouro,
do meu navio de carne e de
pecado.
Perdi os meus olhos de
menino e de criança.
O riso bom ficou na encruzilhada
poeirenta
das rotas rotas pelas
invernias.
O meu riso de água
cristalina
o mundo turvou de águas de
enxurrada.
Mas, sou um homem, mulher.
Um Homem que possui todos os
defeitos
que um Homem deve ter para
ser Homem.
Tu serás
agora a terra fêmea
para a semente que eu sonhei
plantar.
Meu filho!
Meu filho será um poeta!
Será um varão!
Um poeta por certo e da
miséria.
Será a voz gritando, quando
cala
o covarde diante do chicote.
Meu
filho será um poeta! Será um varão !
Saberá passar a noite toda
andando pela rua,
enquanto a lua anda na
amplidão
e saberá enfrentar a noite escura
da enxovia santa da verdade.
Meu
filho será um poeta! Será um varão!
Saberá o cantar do arvoredo,
a cantiga menina de
esperança
e maldizer no centro de uma
praça
a fome de um menino
abandonado.
Vem, terra mulher.
Deixa o meu navio de carne e
de pecado
ancorar no teu porto cor de
rosa.
Anda depressa mulher.
Ouve. O meu povo já clama
por meu filho
nas greves e nos comícios de
revolta
atrás das barricadas.
Vamos tirar algumas horas
das centenas de horas
de nove meses de espera ?
Tens dono ? Não ? Melhor.
Eu não devo plantar em terra
alheia.
Tens dono ? Tens? Melhor...
Melhor... Melhor...
Todas as terras são de todo
mundo.
Tens
nome ? Não ?
Que importa agora ?
Te chamarei de bela e
sedutora.
E quando
surgir a aurora
da grande libertação,
o teu nome será lembrado
do cais do porto até os
cafezais.
De todos os latifúndios
divididos
á casa do operário e do
camponês.
Oh! Deita no meu peito...
SAUDADE
DE UMA LOUCA DE GUERRA
Estas
mãos enrugadas e feias
foram as mesmas que fizeram
com o cuidado das aranhas ao
tecer sua teias
as blusinhas, o babadouro,
as faixas,
o calçãozinho, o gorro, as
meias!
Depois,
como ave com asa criada,
voou
e me deixou quase nada!
Para a mãe quase nada.
De vez em quando um beijo.
Faz tanto tempo... Eu ainda
o vejo...
Todo mundo me dizia:
’- Como cresceu o seu filho!
Está mais alto que você!’
Não. Não. Ele era o meu
bebê!
Um dia apareceu fardado,
vestido de soldado. Disse
que ia partir...
Eu comecei a chorar.
Ele se pôs a rir...
Pedi, implorei que
ficasse...
Sorrindo respondeu que se eu
não chorasse
um dia voltaria...
E lá se foi o meu filho para
a guerra.
O meu moço menino,
o meu menino criança,
a minha criança esperança.
E vem o senhor perguntar o
que há de ser saudade ?
Saudade sem fim é não ter
lágrimas para chorar
É chorar aqui... no
coração...
É a gente a pensar: ‘Ele
volta sim... Ele volta sim...’
e o governo a dizer: ‘ Ele
não volta não... Ele não volta não...
Saudade é sentir falta até de
má-criação!
Saudade é este papel:
‘Morreu.’
É esta medalha: ‘ Morreu.’
E é a saudade que me faz
escutar a toda hora:
“ – Mamãe... Mamãe...
Voltei... Voltei...
Sou eu... Sou eu...”
Se a guerra, mãe maldita,
não quer devolver o meu
filho grande,
devolva ao menos o
pequenino...
devolva o meu menino
ou então traga-me o que
restou dele...
Eu quero fazer para ele
apenas
um canteirinho de rosas e
açucenas!
ORÓS
A chuva chegou ,
devagarinho,
como quem não vai ficar.
Deu um banho de chuveiro
no cajueiro menino
lá da porta do curral.
Zefa ria de contente;
meu filho pôs-se a chorar.
Peguei Raimundinho de ano
e botei lá no balanço
da rede de buriti...
Ficou pra lá... e pra cá...
Miado de gato com fome ,
a rede pôs-se a miar.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede.
Morte, chuva não traz”.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
E choveu o dia inteiro.
E choveu a noite inteira.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais”!
“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede,
afogado na poeira
que o sol jogou no sertão.
Plantamos e não colhemos,
pois a seca disse:”- Não!”
E, quando a chuva chega,
tu ficas a reclamar ?
Não pode mesmo ser muito
quem nunca vem pra
chegar...”
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais.
Vamos pegar o menino
E botar o pé no mundo
Que isto não é vida não.
A gente escapa da seca
Vai no dilúvio afogar ?
Zefa, junta os teréns e o
Raimundo,
Vamos tocar o pé no mundo,
Vamos embora do sertão.
Esta terra é maninha
E é madrasta também.
Zefa , junta os teréns,
Jaguaribe-jararaca
“ta” virando sucuri;
desde que me entendo por
gente,
chover assim nunca vi!”
“- Deixa chover, Zeferino.
Vamos ter cangica nova,
vamos plantar arrozal;
vamos engordar um porquinho;
paçoca, pamonha, pão...
Vamos aumentar a família:
um Raimundinho só não dá!
E quando os meninos
crescerem,
A Zefa vai descansar...
Deixa chover, Zeferino...”
E veio a enchente bravia:
levou a casa da Zefa,
levou a Zefa afogada
e o Raimundinho também,
por estes mundos de Deus...
Abriu uma estrada, um
caminho,
de sofrimento e de dor...
E, sem Zefa, sem rancho,
sem Raimundinho, sem nada,
o Zeferino, na estrada
segue falando sozinho:
“ Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais...”
REDENÇÃO
DE ORÓS
Que cheiro
de terra na terra batida!
Que gosto de sangue na boca
sedente!
Que cheiro de gente, de
gente batida!
Que gosto de sal na água
falida.
Que cheiro-miséria suspenso
no ar!
Menino me escuta, eu quero
contar...
Não espere brinquedo não
tenho pra dar.
Não espere canção, não posso
cantar.
Não espere da terra. A terra
não deu.
Espere um poema. O poeta sou
eu.
Que cheiro de terra eu
sinto, mulher...
Semente é ser homem que pode
plantar
Semente de gente no altar do
teu ventre.
Futuro da pátria ´fruto do
amor.
Futuro da terra é flor ser semente.
Futuro do chão é semente
plantar.
Mulher, vem, me escuta, eu
quero contar!
Oh!
homem sem filhos, oh! carne de dor!
Estátua de ossos vigiando os
destroços.
Estátua de músculos destino
de cova.
Estátua deitada, sem praça,
sem fé.
Estátua de quem morreu
trabalhando.
Pedaço de gente não mora no
mármore,
mas mora na boca de quem vai
falar...
Oh! homem ... me escuta, eu
quero contar...
Um dia eu sonhei ser poeta do povo.
Ter povo na boca e no
coração.
Ter a alma nos olhos,
caminhos nos pés.
Ter rosas nos dedos e um
mundo na mão.
A fala de um Deus. Ser
criança no olhar.
Menino, me escuta, eu quero
contar...
Vi seca no norte, vi fome e
pobreza.
Vi a mãe natureza, madrasta
sem par.
Vi loucos correndo da sede
maldita.
Vi boi afogado num rio de
poeira.
Vi o olho do céu sem nunca
piscar.
Senti nos meus pés a ponta
do espinho.
E vi, sem caminho, crianças
mirradas.
E vi sepultura no bico do
corvo.
Dois homens eu vi, de faca
na mão,
lutando por terra, por causa
de pão.
E vi um cachorro, tão magro,
faminto,
Costelas lutando pra vida
vencer,
Levando nos dentes já quase
perdidos,
As pernas perdidas de
alguém, no caminho!
Gritei: Maldição! Será que é
Brasil ?
Será que é Brasil ? Oh!
fome-desgraça!
Será que é Brasil ? Oh! Pátria quimera...
Será que é Brasil ? Meninos
fugindo...
Será que o Brasil é a Pátria
da esmola ?
Será que o meu Cristo já viu
padecer ?
Será que Jesus já viu a
caatinga ?
O chão falecido sem gota de
chuva ?
A boca partida com gosto de
sangue ?
Os pés suplicando um mato no
chão ?
E a terra queimando a
entranha da gente ?
Num berço de espinho,
criança nascer ?
E a mãe soluçando, sem gota
de leite,
deixar o filhinho de fome
morrer ?
E os olhos de louca,
perdidos no chão...
cabelos ao vento, malucos,
no ar...
Menino, me escuta, eu quero
contar...
Espere a verdade. O tempo é
verdade.
Espere a esperança. A
saudade fugiu.
Espere sorriso. Futuro
nasceu.
Espere um poema. O poeta sou
eu.
Poema de Orós plantado no
rio.
Poema de vida suspenso no
ar.
Mulher, vem, me escuta... eu
quero contar...
Não espere um abraço, não
tenho pra dar.
Não espere cegonha. Cegonha
já veio.
Não espere meu beijo na
ponta do seio.
Meu peito não pode ser de
outra o retiro.
Meu amor eu já dei e eu
tinha pra dar.
E eu sei que já dei com
gosto e alegria,
esperança surgindo na casa
do olhar...
Meu amor semeando no campo
que é meu...
Espere um poema. O poeta sou
eu...
Oh! homem vergado ao
peso da enxada.
Oh! homem sofrendo, faminto,
perdido.
Oh! homem sem terra, sem
casa e mulher,
Escuta o meu choro. Eu quero
chorar.
Um choro baixinho. Um choro
sem par.
Do choro dos homens o açude
surgiu.
Nasceu meu açude na boca do
rio.
Nasceu teu futuro, menino
esmoler.
Nasceu minha hora de estar
com mulher.
Nasceu um pedaço de chão no
deserto,
pra ser dividido pro Jeca
plantar.
Reserva de riso pro choro de
alguém.
A sede morreu no lago
plantado.
Esperança surgiu do lago
nascida.
O sol já é pai. Morreu o
carrasco.
O sol faz nascer a sombra
fresquinha
e a sombra é perdão à beira
da estrada.
O sol não é sede, é suor no
trabalho,
Que traz a riqueza no passo
da gente.
Óros já nasceu ausência de
sede.
Orós é adeus ao sangue na
boca.
Orós é adeus trabalho de escravo.
Orós é o templo, surgido do
chão.
É o tempo sem tédio, surgido
do nada,
É o templo do tudo do meu
coração.
E acho que agora eu sou mais
cristão.
Este livro tem que ser apresentado à sociedade....
ResponderExcluirHá coisas interessantes a serem conhecidas....
boto fé!